8 de agosto de 2009

A Guerra de 1908
Raul Solnado

9 comentários:

  1. Até sempre grande Raul.

    Raramente temos artistas destes, vamos sentir a sua falta.

    RIP

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  2. A Das Bolas de Sabão9 de agosto de 2009 às 01:07

    You're welcome L.

    :)

    Valente Solnado!

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  3. Isto é genial.

    Conversava ontem com a minha mãe: seria a sua tolice infantil genuína, ou um óptimo trabalho de actor? A minha mãe julga que a segunda se transformou na primeira, com a idade; eu cá não consigo dizer. Há ali uma inteligência que me escapa!

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  4. Extracto de entrevista ao Grande Raul...

    As gargalhadas que ganharam a guerra
    Raul Solnado é um actor de mil faces mas foi com as gargalhadas que se impôs como uma figura mítica do espectáculo. E quando a guerra colonial era sagrada e indiscutível, ele pôs Portugal a rir-se de uma guerra sem sentido, uma rábula que foi o seu maior êxito de sempre.
    Ouvide agora senhores, a sua estória de pasmar!


    ...

    A - Foi por isso que em plena guerra colonial pôs Portugal a rir à gargalhada com a sua versão da guerra?
    RS - Aquela rábula tem um início anterior à guerra. Eu fui a Madrid e vi o Miguel Gila representar o texto. Fiquei logo apaixonado pela rábula porque o non sense é o tipo de humor que mais me toca.
    Comprei o disco, traduzi o texto mas guardei-o, não por temer a censura mas porque tinha dúvidas que as pessoas gostassem daquilo.
    A - E quando é que a sua guerra saiu da gaveta?
    RS - Foi já no início da guerra em Angola. Eu fui com o Humberto Madeira - um cómico fabuloso - à quermesse do Nacional da Madeira, na Quinta da Vigia, um sítio lindíssimo onde agora está instalado o Governo Regional. Num mês fizemos 45 espectáculos e lá para o fim sentimos que era preciso refrescar o repertório. Disse ao Humberto Madeira que gostava de fazer a guerra, talvez as pessoas gostassem. Ele apoiou-me e avancei. Nessa noite o público riu-se tanto que pediu bis. Foi ali que começou o sucesso da minha guerra...
    A - Quais eram as suas dúvidas em relação ao texto?
    RS - Não era em relação ao texto, mas ao gosto do público, hoje as pessoas riem melhor que naquela altura. Eu não sabia se um texto non sense ia funcionar. Os cómicos têm sempre essa dúvida. Uma piada leva duas horas a ser construída e depois desaparece como um fósforo. É ao contrário dos cantores que quanto mais cantam um tema, mais ele se populariza e ganha notoriedade.
    A - A estória da sua ida à guerra começou na Madeira e depois alastrou a que palcos?
    RS - Mal cheguei a Lisboa fui fazer um espectáculo no ringue de patinagem de Oeiras e o êxito foi igual ao da Madeira. Na altura ia fazer a revista "Bate o Pé" e fiquei com a certeza de que a rábula não ia falhar.
    A - Mas aí já tinha que submeter o texto à comissão de censura...
    RS - Pois, e era uma censura visual e de texto, por isso eu tinha um grande receio que não passasse. O Nelson de Barros, grande jornalista e o maior autor de revistas que conheci, disse-me que mandávamos o texto como sendo para o personagem Cantinflas, uma rábula que tinha feito no teatro Apolo. Quando o texto veio aprovado, ninguém queria acreditar. O problema era a censura visual.
    A - Como funcionava essa comissão de censura visual?
    RS - No ensaio geral, cinco ou seis censores viam o espectáculo. Depois diziam que era preciso tapar um umbigo, descer umas saias, coisas assim. No Carnaval só se podia dizer merda uma vez por sessão. Como eu não ia vestido de Cantinflas, estava receoso que a rábula fosse cortada. Mas estes textos de non sense têm de ser bem compreendidos, caso contrário não funcionam. E eu disse aquilo a uma velocidade tal que nem eu próprio percebi o que dizia. Os censores também não perceberam e, no final, um deles disse-me que estava tudo aprovado mas deu-me um conselho: olhe lá, não faça aquilo da guerra, não tem piada nenhuma! E eu disse-lhe que era obrigado a fazer mas que então só fazia aquilo na estreia. Como já sabia o que vinha a seguir, pedi à Valentim de Carvalho que gravasse aquilo na estreia e lançasse o disco. Depois era impossível travar a rábula. Os censores ficaram baralhados com o Cantinflas!

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  5. Ahahah, obrigada MF! Que bom poder situar esta performance, saber a sua história - onde, porquê, como, com quem.. Os episódios com a censura são smp deliciosos!
    Não sabia que passeava por este cantinho, fico muito contente. :)
    **

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  6. "Fez e foi o que se viu. A gargalhada geral à terceira fala, o público a pedir bis, até ao ponto em que já todos sabiam a história de cor e a diziam ao mesmo tempo que o actor. Até ao ponto em que, um dia, no Barreiro, Raul Solnado percebeu que teve mais aplausos na entrada em cena do que à saída e jurou que nunca mais iria à guerra de 1908. Haveria de quebrar a promessa, claro, e por aí se vê que de teimoso, afinal, não tinha tanto."

    (in http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1330020&seccao=Teatro)

    Conclusão: que seria de Raúl Solnado sem o povo Barreirense? Ora bem :P

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  7. AHAHAH! Uma pérola, João, obrigada! Era a informação que faltava! x)
    Às vezes o artista é como o peixe, e morre pela boca (nem que seja por cansaço). Mas o barreiro é vermelho e sedento, compreendamo-lo. Era um negrito de uma certa ideologia, num certo país. Estou a imaginar esse público para quem tudo era militância, até mesmo o humor absurdo. eheh

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