31 de dezembro de 2009

vou ali e já venho

Podia deixar uma frase de fim de ano, sobre aquilo que foi e o que há-de ser, e a felicidade que vos desejo e quês. Mas não sou de cinismos. Todos sabemos que hoje é dia de ficar em ansiedade pelos calendários foleiros da padaria da esquina.

Três vodkas para quem conseguir o dos cãezinhos. Casais de crianças valem duas. Foto dos filhos do patrão é a f*cking masterpiece.

30 de dezembro de 2009

27 de dezembro de 2009

1 + (-1) = 0

""Artificial Life" is, of course, a deliberate oxymoron, meant to shake us into considering the possibility that "life" might not be an exclusively "natural" object or process."
Helmreich*

Já o anel de pechisbeque da rapariga que ontem lavava as mãos no wc do bar do Corto Maltese é um oxy moron.

verdadeiros bloggers não se refugiam na wonderland

Cá estou eu, tantos dias depois. Há temas tabu no soldados e Dezembro esteve carregado deles - s*smo, Copenh$ga, fr*o, N$tal... Aviso, por honestidade, que não sei definir esta zona cinzenta; trata-se apenas de um conjunto de coisas das quais não me apetece falar, nas quais não me apetece sequer pensar e então faço de conta que não as vivo. Talvez seja antes uma disposição. Não, é mesmo antes uma disposição. É quando o cheiro do jornal enjoa-me e faço de conta que não vejo os feeds do Público. Sei dos murros ao Berlusconi pela mãe. Processo em memória de peixe a informação que parece propensa à repetição exaustiva, gratuita e non grata nos dez dias seguintes da minha vida social e vegetativótelevisiva. De vez em quando olho para o tecto e pergunto-lhe: «Quando é que isto passa?».

Ao mesmo tempo tenho uma lista imensa de tarefas a cumprir, começo pelas mais afastadas da realidade: bebo "chá" de chocolate com chili, visto um roupão com mangas laranja fluorescente, quase-deixo de fumar, mudo as argolas, leio Silicon Second Nature e Asimov, bebo mais "chá".

Há bloggers que parecem nunca passar por isto. Têm sempre opinião e bom gosto, lêem tudo, vão a todo o lado, têm os meus pontos negros em amigos, escrevem trinta mil posts por ano, todos brilhantes. É que não é como se a minha vida fosse incrivelmente excitante para além do que aqui sou, ou um caso de other people’s lives seem more interesting, cuz they ain’t mine. É que não é nada disso. Bah.
Mas quê, falta-lhes uma perna, ou assim?

11 de dezembro de 2009

Darth Vileda

«Join me, and together we shall mop the universe.»
The Matazone Blog

Ia fazer uma montagem com o meu crush Michio Kaku - aquele cabelo de maestro em cabeça de contas tem em mim efeitos endócrinos incorrigíveis -, mas isto é bom e dá para todos.
(Quero uma suite no céu.
)

10 de dezembro de 2009

atrás do osso

"What is the true lesson of the Copernican revolution? Why did Copernicus exchange his actual terrestrial station for an imaginary solar standpoint? The only justification for this lay in the greater intellectual satisfaction he derived from the celestial panorama as seen from the sun instead of the earth."
Polanyi, M.*

Como uma inclinação natural para a abstracção ridícula? E a ciência seria «qual o modelo mais louco que responde a estes dados?». Hum... Bolas, és pago, não pode ser assim tão divertido.

1 de dezembro de 2009

tic toc, a menina bomba

Quer sair da caixa
Salta matrioska, salta matrioska, salta matrioska
Sai fractalinho, sobe as escadas

«Apenas ponteiros? Mas aqui cheira a quartzo, óleo e rodinhas!»
[Morde o lábio, feliz.]

Tic toc, a Ilumino-Optimista está de volta. Sempre informada da crítica e do pós-moderno, os indispensáveis homens-seca.

E de que é feito um homem-seca? Provavelmente de barro não cozido. É portanto frágil, ainda que não aparente. Quando quebra, mistura-se água e faz-se mais.

30 de novembro de 2009

to quote The Quote

"Sou cheia de manias. Tenho carências insolúveis. Sou teimosa. Hipocondríaca. Raivosa, quando me sinto atacada. Não como cebola. Só ando no banco da frente dos carros. Mas não imponho a minha pessoa a ninguém. Não imploro afeto. Não sou indiscreta nas minhas relações. Tenho poucos amigos, porque acho mais inteligente ser seletivo a respeito daqueles que você escolhe para contar os seus segredos. Então, se sou chata, não incomodo ninguém que não queira ser incomodado. Acho sim, que, às vezes, dou trabalho. Mas é como ter um Rolls Royce: se você não quiser pagar o preço da manutenção, mude para um Passat."
Fernanda Young, no facebook da R.
Today, I texted:
ai a puta da minha vida. vou pa debaixo do comboio. não, vou pa cima. engolir moscas. deve ser bem pior.

23 de novembro de 2009

limpar a mala

Limpar a mala é uma tarefa reveladora, quase tão reveladora como a inspecção do lixo (dava uma monografia, já o discuti com o Sr.Q.). Na verdade, limpar a mala é inspeccionar o lixo, separá-lo das coisas importantes, como o espelhinho, o poema do oitavo ano, ou o fio dentífrico. Acontece que passam pela vista os artigos mais surpreendentes. No meu caso, dominam os talões e as pistas de chocolate, conjunto que faz o resumo de uma vida recente: botas, livros, vestidos, conguitos, maltesers - «Liliana, tens gasto muito e trabalhado pouco, não tens? Ufa, deves andar com umas borbulhas de depressão...». Entre estes, por vezes aparecem rabiscos de ideias que, por algum motivo, não tiveram espaço no moleskine. Algo, em determinado momento da minha vida, ligou "Godel incompletude" a "self organization(biologia)" e "psicologia e pós-modernismo"; só agora não me lembro do quê.

17 de novembro de 2009

tornou-se pessoal

Este post foi removido pelo autor e só sobrou isto:

Bachelorette

Bjork

15 de novembro de 2009

1963 em 2009

'Long live the world's first female cosmonaut'
a Soviet poster (in Czech) celebrating Valentina Tereshkova, who orbited the Earth in Vostol 6 in June 1963. science museum

11 de novembro de 2009

Procurarei ser tão incrédula e curiosa convosco, irmãos, como com qualquer zulu da Zululândia. Não suspeito das ciências no vosso-nosso mundo, até porque não estimo particularmente os sentimentos nobres. Sei bem o valor de uma cadeira ergonómica - às vezes é tudo o que interessa.



Etc, Tactical biopolitics, Gluckman, Nietzsche e Coca Cola.

8 de novembro de 2009

"Há pessoas que têm um ar de liberdade nos lábios e que não são necessariamente assassinas. Procure apanhar ar."
Guy Debord

num sítio que não sei onde fica

O Manel Marum, o Jaquim Chebarra, os Côcos Marafados, a Ti Canhita, Eu e tu, Avó.

6 de novembro de 2009

Freud explica?

Freud explica a minha relação com a nova campanha do Pingo Doce - olhares e mãos carniceiras, aquele branco de açougue, o Ricardo Araújo Pereira? E a minha relação com o paint? E as manchas de maturidade no meu cérebro? Tenho a dizer-vos que Freud sabe muito pouco acerca disto.

Desculpa, mãe.

3 de novembro de 2009

technologic

Surf it, scroll it, pause it, click it,
Cross it, crack it, switch - update it,
Name it, rate it, tune it, print it,
Scan it, send it, fax - rename it,
Touch it, bring it, pay it, watch it,
Turn it, leave it, start - format it.

1 de novembro de 2009

Outubro foi mais ou menos "o mês do Latour", por aqui. Sugere a teoria do ritual que satisfaça a fase de agregação para bem da estabilidade do mundo...: vai de foto a preto e branco.

28 de outubro de 2009

""Science proposes, morality disposes," they say by common agreement, patting themselves on the back, scientsts and moralists alike, the former with false modesty and the latter with false pride."
Latour, B.*

25 de outubro de 2009

Tour de France

Latour, Latour, Latour.
Mas se nós nunca fomos modernos, porque raio, eu pergunto, PORQUE RAIO insistes em libertar-nos de categorias com mais de dois mil anos? Acaso somos estúpidos? Acaso és tu, ou andas a enganar-nos?

(Às vezes acho que os autores inventam problemas para serem os primeiros a resolvê-los.)

coisa que me tira o sono

"Modern man a wimp says anthropologist"
Reuters, 14/10

As mulheres estão cada vez mais bonitas, confiantes e cultas.
Os homens, para além de estudarem menos, estão a ficar flácidos.
Isto é coisa que me tira o sono (e o sexo).

23 de outubro de 2009

o barco das 13h25

À tangente. Tinha deixado de acreditar ainda íamos no túnel: «dez minutos de estrada em sete de tempo? Impossível.».
Que prova isto? Que a fé é vã, ou que as outras quinze pessoas no autocarro acreditaram para caraças?



(Momento "Proficuidade Matametafísica", sponsored by transportes públicos em geral.)

19 de outubro de 2009

tarde demais. já me devem ter deserdado, e às escondidas.

Hey Mom & Dad...

The Anthropology Song: A little bit Anthropologist
Dai Cooper, via antropologi.info

A pedido de três indivíduas: Aviso: «Tento, pode ofender» .
(compreende aqui)

estranhas empatias parte dois


O sistema de artrose como ele não é e as tartarugas de Grey Walter.

muita Tate















Estamos certamente pela redefinição do conceito de artrose.

11 de outubro de 2009

9 de outubro de 2009

"The only thing a technological project cannot do is implement itself without placing itself in a broader context. If it refuses to contextualize itself, it may remain technologically perfect, but unreal. Technological projects that remain purely technological are like moralists: their hands are clean, but they don't have hands."
Latour, B.*

8 de outubro de 2009

7 de outubro de 2009

euro-american metaphysics

"Do we want to apprehend and enact non-coherent multiplicities? Euro-American metaphysics, in so far as they are carried in natural and social science, usually say 'no'. Or, to be more precise, they propose a division of labour between science and art. Or between external realities and personal experiences. Poetry or painting or novels may escape the requirements for coherence and consistency because their 'out-there', the absence they enact, is not taken to be 'real'. It is not 'really out-there' - and in the imagination non-coherence is allowed as a possibility. So individuals are authorized to dream without any requirement of consistency. But realities are more serious. They demand singularity, and singularity demands experts, a single point of view. Non-coherent realities disappear into art, or the real of the personal."
Law, J. *

com grande respeito e admiração

Porque acho que é tão atrevido falar de realidade out-there como de realidade in-here, passo a chamar-te John Lawlita.

3 de outubro de 2009

1 de outubro de 2009

protocolo

Galloway, Alexander R. 2006 Protocol: how control exists after decentralization. MIT Press.

"Is the Internet a vast arena of unrestricted communication and freely exchanged information or a regulated, highly structured virtual bureaucracy? In Protocol, Alexander Galloway argues that the founding principle of the Net is control, not freedom, and that the controlling power lies in the technical protocols that make network connections (and disconnections) possible. He does this by treating the computer as a textual medium that is based on a technological language, code. Code, he argues, can be subject to the same kind of cultural and literary analysis as any natural language; computer languages have their own syntax, grammar, communities, and cultures. Instead of relying on established theoretical approaches, Galloway finds a new way to write about digital media, drawing on his backgrounds in computer programming and critical theory. "Discipline-hopping is a necessity when it comes to complicated socio-technical topics like protocol," he writes in the preface." (...)

Foreword: Protocol Is a Protocol Does, by Eugene Thacker
Lamento, mas não és um radical livre.

27 de setembro de 2009

23 de setembro de 2009

bom e em português

Horizontes Antropológicos
revista non gratuita, therefore amanhez vous

---
[25.09] afinal afinal illic est a solvo obvius, liberalitas of Diogo Duarte

20 de setembro de 2009

Gell (1998): a antropologia da arte

Inscrita nos debates sobre o estudo antropológico dos objectos artísticos, Art and Agency – obra póstuma, escrita nos últimos meses de vida de Alfred Gell – é comummente apresentada como revolucionária, ou pelo menos de grande importância, na medida em que avança uma série de propostas operativas para o campo disciplinar, para além de procurar localizá-lo e defini-lo no espaço da Antropologia. Mais do que uma reflexão sobre os objectos, é importante destacar que Gell tem uma versão própria sobre o que deve ser Antropologia da Arte, demarcando-se explicitamente das suas versões institucionais – mais próximas da Sociologia – e simbólico-interpretativas – afins da Antropologia Cultural Americana e da Teoria da Arte, suportadas por alguns discursos filosóficos –: da construção e/ou reconhecimento da arte ao nível das esferas metropolitanas influentes (críticos, negociantes, coleccionadores, teóricos, etc – o “mundo das artes”(Cf. Becker)), e da expressão artística como linguagem, meio de comunicação estética que parte de uma série de convenções simbólicas sobre a forma, respectivamente. Alertando para os perigos da imposição de um modelo etnocêntrico a contextos alheios à definição institucional da arte (sem que com isso deixem de possuir objectos de relevância artística, com os quais indivíduos e grupos se relacionam segundo padrões relativamente semelhantes aos que Gell observa para o ocidente) e para os da reificação da cultura, vazia de relações sociais, na formulação de quadros de avaliação estética – que é estratégia normalmente adoptada pela Antropologia da Arte de pendor mais simbólico e/ou interpretativo –, Alfred Gell prefere uma abordagem action-orientend, como deixaria adivinhar o seu treino na escola Social Britânica, em que o idioma da comunicação é substituído pelo das relações sociais, e do da textualidade pelo da agência. É por isto que à teoria deste autor se associa um certo filistinismo metodológico (Quintais, 2007; Thomas, 1998), produto do deslocamento do sentido para a mediação social; nesta Antropologia da Arte interessam sobretudo as relações de agência nas imediações do objecto artístico, abordagem que faz maior jus à sua especificidade pela eficácia social (Cf. Gell, 1992) do que pela sua forma ou conteúdo. Sem rejeitar as perspectivas concorrentes, o esforço de Gell é o do resgate e autonomização da sub-disciplina face a este objecto partilhado que é a arte, defendendo que esta não pode existir sem ser em diálogo com a teoria antropológica disponível; a primeira deve ser apenas uma derivação da segunda, um registo enfocado, mas nem por isso independente: “The position I have reached is that na anthropological theory of art is one which ‘looks like’ and anthropological theory, in which certain of the relata, whose relations are described in the theory, are works of art.” (Gell, 1998: 10) . Deste modo, a formulação e aplicação de uma teoria antropológica da arte não depende necessariamente do estatuto de “obra de arte” dos seus objectos, ela afirma-se antes como a compreensão das relações pessoas-coisas e pessoas-pessoas via coisas, nas quais os produtos assim reconhecidos participam (note-se que a tese de Gell é assumidamente uma tese dos objectos e da arte plástica). Daí que a definição de objecto artístico se estenda muitíssimo em Art and Agency: é arte tudo aquilo que preencher a slot dos objectos artísticos no sistema de termos e relações estabelecidos por Gell (ibid.: 7). Este enunciado, estritamente teórico e relacional, ainda que dilua a categoria de “objecto artístico” – ao ponto de poder corresponder-lhe, em potência, qualquer dado material do mundo –, tem como vantagem contornar os debates filosóficos em torno da natureza e/ou essência da arte e superar as diferenças estabelecidas entre arte primitiva e arte ocidental , no sentido de encontrar-lhes uma plataforma de análise comum.
[excerto de recensão, notas omissas*]

Para-paradoxo do barbeiro: etc etc, e afinal era barbeira, nem barba tinha.

17 de setembro de 2009

now he will play




Heróica
(Chopin Op. 53) Rubinstein
"Explicitness against implicitness, insistence on the obvious as against avoidance of the obvious, numerical assessment as against avoidance of figures, recapitulation as against variety, accurate definition as against evocativeness: the former qualities are part of the rigorous code of scientists. As Homans says, '...it could not be better calculated to make their books and articles hard reading'."
Gluckman, M.*

16 de setembro de 2009

How to be antiscientific
Steven Shapin
In: The One Culture? A conversation about science.

15 de setembro de 2009

vai na cabeceira



"Thoughtcrime does not entail death: thoughtcrime is death."




Os antropólogos querem-se mortos.

vai no estendal

(Apanhei-te ou apanhaste-me?)

elixir recomendado

A minha relação de amor-ódio com [aquilo que conheço d]a obra de Michel Foucault tem sido assunto depositado na folha do soldados com alguma recorrência, de forma mais ou menos explícita. (Serão as dúvidas teóricas que me assaltam de banana e corta unhas as substitutas das crises existenciais de adolescência, na dinâmica da minha vida? Não.) Pois bem, quis o destino, ou um professor generoso, que me encontrasse com um texto fantástico, uma espécie de contrafeitiço: Michel Foucault, Ou o Niilismo de Cátedra, de José Guilherme Merquior.

Boa sorte com a pesquisa, já que o livro parece não passar a censura do gosto académico - tão mais amigo do meu autorU/Ambiguidade -, mas façam um favor a vocês mesmos, se partilharem do interesse, e sejam perseverantes! (Podemos sempre pensar noutras opções, já que não reconheço ilegitimidade na circulação de informação...) É uma crítica incrível: mais do que apresentar as incongruências, ou mesmo os erros, nos trabalhos de Foucault, Merquior explica-os! Explica a obra pelo contexto, conhecedor distanciado, sempre sereno e com muito humor. Mostra quando aquele diz mais do mesmo, citando nomes familiares, mostra também quando é que é novo - afinal não tantas vezes. E ninguém fica mal visto. Então Foucault passa a ser mais um homem - mais um homem, ha!

Termina assim:
“Leo Strauss costumava dizer que, nos tempos modernos, quanto mais cultivamos a razão, mais cultivamos o niilismo. Foucault demonstrou que não é absolutamente necessário fazer a primeira coisa a fim de alcançar a segunda. Ele foi o fundador de nosso niilismo de cátedra.”

7 de setembro de 2009

experiência


Serve o espaço de comentários a este post à partilha de links relacionados com a exposição INSIDE, vale? Tenho preferência por textos críticos, que os de divulgação são normalmente repetitivos; de qualquer forma, que não seja pela triagem que deixam de copiar e colar...!
A exposição arranca a 24 de Setembro, mas já existe alguma coisa por aí.
Agradeço então qualquer informação em que tropecem e achem relevante.

«Uma causa oniro-tésica.»

5 de setembro de 2009

Vesti la giubba, Paggliaci
(Leoncavallo) Luciano Pavarotti

3 de setembro de 2009

coisa que a lua certamente não é

No ano que passou li muito construtivismo e uma série de proto-ideias que permitiram os estudos sociais de ciência como hoje os conhecemos. Compreender a inscrição da ciência na cultura e nas relações sociais – ou seja, que não é descomprometida ou isenta de contextualidade, sendo reflexo de intersubjectividades com a sua agenda intelectual particular, equacionada junto de meios, pré-disposições e expectativas –, levou algum tempo e é uma marca do século XX, especialmente do pós-guerra. (Mais recentemente, questiona-se com insistência as fronteiras entre natureza e cultura, “o passo a seguir”, mas esta é uma história a que quero dedicar-me num outro dia.) Diria que o projecto pós-moderno é uma mega-depuração, em vez de uma contra-depuração, no sentido em que desemboca num relativismo às vezes insuportável. A certa altura dei por mim aflita por não conseguir pensar doutra forma senão em termos de discursos e poder, de grandes novelas históricas, com a realidade sempre por incerta e uma enorme descrença no conhecimento científico por referência de verdade. «Então mas as coisas são apenas aquilo que dizemos que são?»
Por hipocrisia e etnocentrismo, estes princípios não me causaram grande incómodo enquanto circulava pelas “construções ocidentais” da anorexia, da loucura e genialidade, da divisão mente-corpo… – ao fim ao cabo, parecem-me sensatas e vivíveis, independentemente do seu estatuto de verdade. O problema levanta-se quando descubro a controvérsia da lua, com mais de dez anos, entre Richard Dawkins e alguns antropólogos (sem que se aplique apenas a estes):

Dawkins had once asked a social scientist about a hypothetical tribe that believed that the “moon is an old calabash tossed just above the treetops.” Did he really believe that that tribe’s view would be “just as true as our scientific belief that the moon is a large Earth satellite about a quarter of a million miles away?” The social scientist replied, according to Dawkins, that “the tribe’s view of the moon is just as true as ours.” (daqui).

Ora, este momento anedótico dá a Dawkins a inspiração necessária para escrever “The Moon is not a Calabash” (ao qual, muito infelizmente, não consigo aceder), e, de facto, bolas, tenho de apoiar o cretino dos memes, A Lua Não É Uma Cabaça! A mesma pessoa que aceitava a esquizofrenia como uma total construção, uma existência social (as minhas únicas reservas prendiam-se com a questão do sofrimento humano, que esse não é inventado, mas pode ter os nomes que quisermos), não aceita que a tese da Lua-Cabaça seja tão verdadeira quanto a da Lua-Astro para aqueles que crêem nela, ou que a Sabem. Não, não, não, é óbvio sem nunca lá ter ido, cheirado e tocado: a lua não é tão cabaça quanto rocha!
É então tempo de repensar posições.

2 de setembro de 2009

Blogotheque: Les Concerts a Emporter
"Jonathan Marks' Why I am Not a Scientist"
(recensão Somatosphere)

crer e querer

"Gregory Paul, an independent researcher on evolution, and Phil Zuckerman, a sociologist at Pitzer College in California, have argued controversially that a belief in God is directly correlated with the level of what might be described as the intensity of the struggle for existence. In countries where food is plentiful, health care is universal and housing is accessible, people believe less in God than in those countries where their lives are insecure. A belief in God, and rejection of evolution, they suggest, is most valuable in those societies that are most subject to Darwinian pressures."

eu-voyeur

12 de agosto de 2009

best wishes from Jesus

O soldados-vírgula tem andado a terço-gás nestas últimas semanas, como devem ter reparado. Não estamos numa época propícia - o calor, as cervejas, as passeatas, os livros inúteis e as ganas adolescentes ... tudo me distrai. Espero que a vocês também.
Em breve voltarei ao trabalho e retomarei faculdades e assuntos.
Até lá,

boas férias.

world science festival: "Notes & Neurons"

The Pentatonic Scale

*****


Uma ou duas doses de ciência aberta, duas vezes ao ano. É a minha colecção de férias.

Recomendo este texto, delicioso e acessível, que é sobre muito mais do que matemática...

8 de agosto de 2009

29 de julho de 2009

ética: humanos e robots


"Éticos querem renovar as 3 Leis da Robótica"

Interessantíssimo.

[O tag "direitos humanos" entra aqui como uma interrogação...]

27 de julho de 2009

"génio artístico e loucura"

A palavra loucura possui múltiplos significados. Num sentido mais coloquial, loucura pode significar “extravagância, falta de bom senso, de acerto; insensatez, [ou] imponderação”, no entanto ela é também uma “Denominação colectiva de várias doenças que provocam alienação mental”, citando a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Loucura é portanto uma designação genérica, que remete para o distúrbio mental em geral, para a falta de juízo ou sanidade mais permanentes – as psicoses –, sem se referir a nenhuma patologia em particular. Ainda que exista uma entrada específica para a “locura” no DSM-IV-TR (AAA, 2000) – o manual de referência da prática psiquiátrica, produzido pela American Psychiatric Association –, esta acontece ao nível dos síndromes ligados à cultura, como uma patologia exótica dos latino-americanos , e não na sua acepção de madness, que é a que aqui importa. A loucura é uma ideia antiga, que vem sendo transformada pelos discursos psiquiátricos nos últimos séculos, perdendo progressivamente significado técnico, em detrimento da proliferação de categorias que prometem doenças individualizadas e “verdadeiras”, preferencialmente através da prova biológica, aceitando-se também a estatística. Dir-se-ia que a loucura tem múltiplos equivalentes, a esquizofrenia nomeadamente, porém falar em loucura e na patologia psiquiátrica a, b ou c não é falar do mesmo, uma vez que os termos aportam diferentes significados. Primeiro doença do espírito, depois doença do cérebro (Gillman, 1994), a loucura tem um trajecto histórico interessante; diferentes discursos sobre a loucura e os loucos resultaram em diferentes atitudes e valorações relativas, numa história marcada pela ambiguidade (Albert; Runco, 1999; Foucault, 1999). Do desvio da loucura resultaram delinquentes e criativos, e a estratégia social para lidar com esta marginalidade não terá sido sempre a mesma, quer do ponto de vista institucional, quer do do imaginário colectivo. Em consequência de um determinado clima intelectual, um dos discursos que se acentua sobre a loucura, na viragem para o século XX, é o da sua associação à criatividade e ao prodígio , sendo própria da contemporaneidade a ideia do génio louco, em recuperação do mito clássico (Jaspers, 1956; Lavis, 2005). Não apenas se compreende que uma pequena dose de loucura é útil a determinadas formas de pensar mais out of the box (Feist, 1999), como a própria loucura é esteticizada, passando a integrar o estereótipo do criativo. Na arte e na ciência o desfile de “personalidades supra-normais” (Fonseca, 2007: 47) é conhecido e o interesse da psiquiatria histórica em interpretar quadros, cartas e biografias à luz das nosologias actuais sugere que o imperialismo cultural, ou colonização das experiências (Pussetti, 2006: 9), acontece não só no espaço, como no tempo. O passado é lido e relido – reescrito. Com a cautela de nunca afirmar peremptoriamente a redução do génio à loucura, a verdade é que esta se assemelha a uma contradição, quando a maioria dos estudos psicopatológicos traduz este naquela . A renitência em afirmar a intimidade entre as noções, arriscaria, prende-se com o “poder das palavras”, como se existissem dois tipos de loucos, para os quais só existe um termo. A noção de génio é ela mesmo obscura e a ambiguidade dos termos permite uma espécie de margem de manobra para as dinâmicas sociais de reconhecimento, admiração e crítica: genialidade e/ou loucura não são dados absolutos.
[excerto introdução, trab mestrado, notas omissas*]

com visitas ii

Estar de férias é poder fazer colagens totós no paint.

com visitas, Lisboa e Margem Sul

Distingue-nos a oferta cultural e o rio, foi por aí que fomos.

José de Guimarães, Favela "Série Brasil", 2008 porm.

ÁFRICA - Diálogo mestiço
entrada livre aos fins-de-semana

24 de julho de 2009

21 de julho de 2009

árvore das patacas

(220euros)

Não sei o que será mais sexy, se a maçã de Adão, se a de Newton.

20 de julho de 2009

50cm de altura

o meu pai imitava este senhor, e eu ria

(às vezes ainda resulta)

18 de julho de 2009

projecto de engenharia imaginária

Esta é uma ideia antiga, do tempo das primeiras reflexões sobre como-poupar-tempo-em-transportes-públicos, que nos assolam quando começamos a ir para Lisboa todos os dias. Por sugestão minha a mim mesma, só porque me lembrei ou lembraram, decidi tentar passá-la a papel.
Este é um projecto de engenharia imaginária.
Abram para aumentar.
(As linhas a vermelho são carris barrados a óleo de fígado de bacalhau.)

'primitivismos caseiros'

17 de julho de 2009

IndigiTube - the voice of the remote Indigenous Australia

Joane, o Parvo

“Ó Inferno ieramá.
Hio hio, barca do cornudo,
beiçudo, beiçudo.
Rachador d’alverca, huhá!
Sapateiro da Candosa,
entrecosto de carrapato,
sapato, sapato,
filho da grande aleivosa (…)”

Joane ao Diabo
Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno

the man of genius

Alguns cientistas chegam a debruçar-se sobre a relação entre genialidade e loucura, ainda no século XIX, como é o caso de Francis Galton, estudioso da hereditariedade e apologista da eugenia aplicada à erradicação da doença mental, ou de Cesare Lombroso, que concebe o génio como uma forma patológica, assim como muitos outros carácteres:

“Apathy, loss of moral sense, frequent tendencies to impulsiveness or doubt, psychical inequalitites owing to the excess of some faculty (memory, aesthetic taste, etc.) or defect of other qualities (calculation, for example), exaggerated mutism or verbosity, morbid vanity, excessive originality, and excessive preoccupation with self, the tendency to put mystical interpretations on the simplest facts, the abuse of symbolism and of special words which are used as an almost exclusive mode of expression.” (Lombroso, 1895 citado por Martindale, 1999: 143).

Em 1891, Lombroso publica The Man of Genius, onde apresenta a genialidade como uma patologia degenerativa, à semelhança da insanidade, ou seja, um estádio mental selvagem, ao qual se regrediria através da degeneração nervosa.

12 de julho de 2009

contra-positividade

o homo psychologicus é um descendente do homo mente captus*

hemisfério direito

Bye Bye Blackbird
Miles Davis

11 de julho de 2009

common poetry?

Para manter a aparência jovem,
Fátima Lopes fez uma escolha:
Garnier.
Cuida bem de ti.

Publicidade in Sic, 11-07-09: 9h36.

8 de julho de 2009

razão e cultura (posts de nãodispersar)

E hoje foi disto. Muito bom para organizar ideias! Uma espécie de história crítica da razão; de cultura tem menos, ou tem o mesmo, mas parece tratar-se de uma herança mais subtil, em relação ao leque de filósofos seleccionados (digo eu, mega-neófita e localizada). Os autores são referidos em sequência cronológica, de forma muito articulada - em corroboração ou crítica -, a que se junta uma certa espirituosidade do sr. Gellner. Vão descobrir, se descobrirem, uma razão parricida, impotente e suicida. O Feyerabend e o Wittgenstein também passam as passinhas e o momento "Lista de sovas dadas à Razão" (p.149) parece-me útil de ter na carteira.

(continuo a resistir a um tag "livros"; pior, por nada)

7 de julho de 2009

elogio da loucura

Ora, e das várias leituras de hoje, destaco este momento da Loucura de Erasmo de Roterdão:

"Quem suportaria ter por amigo ou companheiro um velho que aliasse à experiência completa da vida a vantagem do vigor intelectual e o juízo penetrante?"*.
...

um livro por dia, não sabe o cérebro que lhe comia

De facto, não faço ideia.
Confesso que aprecio o ritmo da época de exames - se não leio mais nestes dois meses do que no resto do ano, materiais com e sem pertinência para os trabalhos a desenvolver, anda lá perto. As datas atrapalham-me um pouco e o resultado final (texto) nunca é o desejado. É comum descobrir novas ideias, novas dúvidas, novas maneiras de colocar os problemas, novos caminhos, o que também me complica a vida. Iro-me muitas vezes com o que já escrevi. Regularmente faço uma pausa longa, de preferência junto a café e chocolate, para organizar a minha "síntese provisória interpretativa", que normalmente se expressa em longos e emaranhados esquemas com setas, setinhas, interrogações, equivalentes e chavetas; volta e meia vai tudo para o lixo: «já não penso nada assim». Não sei que processo é este, mas é muito bom. As sensações de mini-eureka, por mais simples e óbvias, animam-me. É uma sede de saber-coisas-novas que vou amainar em Agosto, junto ao mar e ao dolce fare niente (RM). Depois regressa e volta a crescer.

jornal da uma, ontem

"Ahahah! [forte gargalha] Adoro estes chineses! Sempre que há merda, cortam a internet!" S.
mais


(Talvez o ultimato do fim das ilhas tenha sido precipitado; ou não.)
A sondagem está fechada.
Quem está fora, não entra, quem está dentro, não sai.

6 de julho de 2009

4 de julho de 2009

3 de julho de 2009

animação

The Two Old Bachelors
Edward Lear

N-798

Fig. 9. - Chat effarouché et prêt à se battre, dessiné d'après nature par M. Wood.

Chat – J’ai déjà décrit la manière d’être d’un chat qui est irrité, sans frayeur (fig. 9). Il s’accroupit et rampe sur le sol; quelquefois il avance sa patte de devant, en faisant saillir ses griffes, pour être prêt à frapper. La queue est étendue, et elle ondule ou frappe vivement d’un côté à l’autre. Le poil ne se hérrisse pás; c’est du moins ce que j’ai vu dans les quelques cas que j’ai eu l’occasion d’observer. L’animal renverse fortement les oreilles en arrière et montre les dents, en poussant de sourds grondements. Pourquoi l’attitude d’un chat qui se prepare à se batter avec un autre chat, ou qui est violemment irrité d’une manière quelconque, diffère-t-elle si complétement de celle que prend le chien dans dês circonstances semblables? ...

Charles Darwin, 1874
L’expression des émotions chez l’homme et les animaux


sem luvas.

1 de julho de 2009

Mais a beleza confiscada pelos pixeis,
às 20h, se olhar em frente, é isto que vejo.

26 de junho de 2009

cultura, o conceito

discussão aberta a todos os neurónios

Talvez não seja a primeira vez e tenda a esquecer por ser doloroso e abalar-me do cérebro ao mindinho do pé. Mas ao fim de quatro anos de antropologia, encontramos a L. a voltar ao dicionário, para conseguir a certeza de que está enganada, que está pensar mal e que o título do trabalho ainda faz sentido.

Lembrem-me: porque raio continuamos a usar o conceito de cultura? É que se tudo o que é produção humana é cultura[l] - como é costume dizer-se, mas em código, para não dar muito nas vistas (confirmem-no no ponto9) -, desd'esta mesinha à biologia do livro da rapariga ao lado, então quando é que não é pleonástico procurá-la e/ou reflectir sobre as suas relações com o que quer que seja? Qual é o interesse? Ensinar o mundo, repetindo-o até à exaustão para ver se encaixa, usando um ou outro 'exemplo-etnograficamente-conseguido'? Não era mais fácil fazer t-shirts a dizer assumamos tacitamente a cultura?
Não deviam os nosso "pais" ter desistido da cultura quando desistiram das estruturas?


Tenho aquela sensação de estar a descobrir a roda (coisa que me acontece com alguma frequência, feliz ou infelizmente); que a minha criancice não vos canse.

24 de junho de 2009

amador-horror é não levar um poema até ao Fim

23 de junho de 2009

"É preciso fazer a história desta vontade de verdade, desta petição de saber que há tantos séculos faz agora cintilar o sexo: a história de uma obstinação e de um furor. Que pedimos nós ao sexo, para além dos seus prazeres possíveis, para que teimemos deste modo? Que paciência é esta, ou esta avidez, em constituí-lo como segredo, causa omnipotente, sentido oculto, medo sem tréguas? Por que é que a tarefa de descobrir esta difícil verdade se transformou afinal num convite a levantar as interdições e em desfazer os entraves? Então o trabalho era tão árduo que era preciso encantá-lo com esta promessa? Ou este saber tinha-se tornado de tal preço - político, económico, ético -, que foi preciso, para lhe sujeitar cada um, garantir a cada qual, não sem paradoxo, que nele encontraria a sua libertação?"*

21 de junho de 2009

som e cenas

BRAINs, The Musical
Queria partilhar convosco um doc que passou hoje no National Geographic - The Musical Brain -, mas isto também serve!

Para quem insistir em aprender alguma coisa com este post, encontrei ainda amusia, por Oliver Sacks.

18 de junho de 2009

ultimato do fim das ilhas

Teerão, Irão. Já sabemos as notícias, fica um dos vídeos correntes:
16.june.2009 تهران جام جم .


...
19/06
Irão: Khamenei garante que "o povo escolheu aquele que desejava", Lusa 11:08 Sexta-feira, 19 de Jun de 2009

Há matérias para as quais certos silêncios são ouro. Mas não.
Ali Khamenei, o último ariete.

o amador-horror por esse mundo fora


Não resisti.

17 de junho de 2009

uma casa portuguesa?

É por estas coisas que somos conhecidos:

"Lower-income groups in UK tend to have higher CVD rates, and many countries in northern Europe show a similar pattern. (…) In contrast, the opposite association has been observed – higher CVD rates associated with higher income – in southern European countries as Portugal. A rapid transition among richer people from the traditional heart-protecting Mediterranean-type diets rich in fruit, vegetables, and fish to diets in animal products and sugar may account for this."*.
[CVD = doenças cardiovasculares]

Isto lembra-me um episódio engraçado, lido num livro qualquer: uma ONG pretende promover a actividade física como parte integrante da “vida saudável”, numa aldeia africana, através de um poster que mostra uma gorda no sofá e uma magra a aspirar, depois de uma história de fome e pobreza... [roflmao]

15 de junho de 2009

versículos satânicos

Coincidência: terminei o livro há poucos dias, isto passou ontem à noite na sicn. Fiquei muito impressionada; apesar de conhecer a controvérsia, não tinha noção da real dimensão da onda de protestos e discórdia levantada pelOs Versículos Satânicos, no final dos anos 80. A escala não foi o Reino Unido, foi o mundo. Devo dizer que não achei o texto particularmente escandaloso, entendi logo o seu carácter ficcional.

Uma identidade muçulmana construída em torno de um ódio, depois de uma fatwa, a um autor indiano de família muçulmana? O reacendimento da hostilidade Irão/Reino Unido? Cat Stevens a condenar Rushdie à morte? ...

... O multiculturalismo e eternas outras coisas - blasfémia islâmica ou liberdade de expressão? Como nos cartoons. Porque podemos brincar com o Papa e não com Maomé? Podemos até comprar histórias de amor, sexo e linhagens secretas de Jesus com Maria Madalena! O humor e [esta] liberdade, são culturais? Era suposto saber responder a isto? Só tenho perguntas.

a minha vida depois de theroux

Portugal, meu amor (trailer)
Dá gosto, a sério. São os docsBarreto-oquefaltava, agora tudo mais jovem e provocador, temactual a temactual, a passar na sicr. Aconselho muito vivamente o episódio dedicado às juventudes partidárias.

(Ok, não é um Louis Theroux, mas também sou tendenciosa, já que tenho uma borboletinha platónica na barriga pelo senhor.)

14 de junho de 2009

"Não espero que os teus dezassete anos compreendam alguma coisa disso. Procuro no entanto instruir-te e também chocar-te. Os teus preceptores, que eu próprio escolhi, deram-te uma educação austera, vigiada, talvez excessivamente protegida, da qual espero, apesar de tudo, um grande bem para ti e para o Estado. Ofereço-te aqui como correctivo uma narrativa, desprovida de ideias preconcebidas e de princípios abstractos, tirada da experiência de um só homem que sou eu. Ignoro a que conclusões esta narrativa me levará. Conto com este exame dos factos para me definir, talvez julgar-me, ou pelo menos para me conhecer melhor antes de morrer."*
Futurama - title captions

13 de junho de 2009

regalo

Porque alguém o deixou perdido na estação de Coimbra, vim a ler o El País a caminho do arraial dos santospop e de casa, ontem. Existem vantagens em ler periódicos estrangeiros: treinar a língua, experimentar outra perspectiva, saber o que se diz, se ouve e se faz noutros lugares. Entre vários achados culturais, no sentido mais comezinho da coisa (ou não) - bem apanhado suplemento EP3 -, encontrei a notícia de um fenómeno que grita ciências sociais sensíveis. Crise de objecto?! A net trouxe novos mundos definitivamente do caraças.

"Lo que este fenómeno de Internet ha revelado, más que la influencia de la publicidad o del boca oreja en Internet, es el poder de la ironía. Estos comentarios, según opina la columnista y experta en consumo del diario Los Angeles Times Megan Dhaum, “satirizan el mismo medio que ocupan: las críticas a productos vendidos online”. “Además, a pesar de la reiteración de que la camiseta es un irónico accesorio de compra obligatoria, hay muchas personas que indudablemente la compran de forma no irónica”, añade. En efecto, el poder de la ironía y un clasismo mordaz han hecho que una prenda antes relegada al panteón del mal gusto sea ahora un elemento de moda, mucho más exitoso que cualquier artículo de marca."

A todos os com sentido de humor e vontade de deslumbramento: a notícia da camiseta con lobos.

7 de junho de 2009

confissões de uma nãoseiquê

Dia de eleições e estou num grande impasse. Bem sei que isto é como os desejos das velas, pedidos depois dos Parabéns, e que não se conta nada a ninguém sob pena de ralo (ir p'lo ralo, quero eu dizer), mas, damn, ouviram falar de europa alguma vez? Pior, às tantas nem de europa, nem de Portugal, nem de coisa que valha. "Ah, queremos justiça, liberdade, democracia, igualdade,..."(Louçã, um dia destes) - é uma piada, certo? Ya, todos queremos valores ocidentais altamente reconhecidos, boa. À falta das propostas ou doutrina como critérios, ponderemos outros: a aparência. Porque não? Que ganhem os melhores (mérito, mérito!), mas se são todos iguais, se são todos os melhores (cof cof), então que ganhem os mais bonitos, para fazer boa figura nas revistas e tv. Faz sentido? Acho que sim; até aqui tudo bem. Mas mãe, mãezinha, amigos, agarrem-me, que o mais bonito é cds, e isso não vai nada bem com a minha história.

Ai Melo, se está lá a tua foto, voto de coração.

6 de junho de 2009

Que espécie de voyeurismo é este?

s.t.




por ser francês,
D'Artagnan é D'Artagnan,
se fosse D'Art'anhão, D. seria filisteu.

3 de junho de 2009

bioterror-eu, bioterror-tu

Na sequência do meu repto para a recolha de pop media que, de alguma forma, evocasse bioterrorismo, catástrofes infecciosas e/ou afins, tenho a agradecer-vos mais de 20 entradas. Folgo em saber que vivo rodeada de nerds do apocalipse biotecnológico; parece que somos da mesma estirpe de Luís Filipe Pereira! Ora reparem no nosso Plano de Contingência relativo ao bioterrorismo: [frase de abertura]

“Com os incidentes terroristas ocorridos nos Estados Unidos da América a 11 de Setembro de 2001, iniciou-se uma era de novos riscos para a saúde e segurança das populações.” (aqui).

Depois é ver os peritos em comunicação de riscos a arrancar cabelos, com o pânico instalado, a “ansiedade antraz”, a xenofobia e a corrida aos antibióticos, às máscaras e aos enlatados.
- Mas porquê? Mas porquê?

‘uma admirável era

2 de junho de 2009

Open Anthropology Cooperative

Um grupo de antropólogos formou recentemente uma rede internacional, a OAC - Open Anthropology Cooperative - http://openanthcoop.ning.com/ - que pretende promover o debate, a comunicação, a troca de experiências e a colaboração entre antropólogos, utilizando a internet como meio de ultrapassar fronteiras nacionais, regionais e linguísticas.

A iniciativa - uma plataforma aberta (semelhante às das redes sociais na Internet), que apela à colaboração multi-disciplinar e multi-regional -, teve um sucesso imediato.

O processo de adesão é simples e o projecto merece o nosso apoio, divulgação e participação.

Duas "entusiastas de primeira hora" formaram um grupo em português - o «Antropolis» - http://openanthcoop.ning.com/group/antropolis - ao qual vos convidamos a aderir e a multiplicar.

Para entrar na OAC e tornar-se membro ("sign in"): http://openanthcoop.ning.com/

Até lá!

pseudopatente intelectual, ou registo de intenção ii

Ir a Virtualinho da Furna, fazer uma antropologia moderna.
Quero estudar o comunitarismo afro-cibernil.

31 de maio de 2009

vantagens ibéricas

um ano sem o charme dos ímpares angulosos?
sim,
mas afinal são os dos patitos, e dão suerte!

24 de maio de 2009

"Não sou contrário às teorias, sou contrario à interpretação platónica das teorias, que as considera como descrições de características permanentes do universo."
Paul Feyerabend*

no limpa pára-brisas

Anúncio de um dia bem-disposto.
(Nunca descobri a autoria, acho que nem é suposto.)