""Artificial Life" is, of course, a deliberate oxymoron, meant to shake us into considering the possibility that "life" might not be an exclusively "natural" object or process."
Helmreich*
Já o anel de pechisbeque da rapariga que ontem lavava as mãos no wc do bar do Corto Maltese é um oxy moron.
Helmreich*
Já o anel de pechisbeque da rapariga que ontem lavava as mãos no wc do bar do Corto Maltese é um oxy moron.
*Stefan Helmreich 2000 (1998) Silicon Second Nature: Culturing Artificial Life in a Digital World. Univ. California Press. pp21
ResponderEliminarAs recensões que tenho encontrado não são mt favoráveis; a um terço, acho que vou acabar por concordar com alguns aspectos: etnografia escassa, delírio analítico, pouca profundidade teórica. Serve no entanto como exemplo de trabalho pioneiro, orientado no sentido que me interessa/parece pertinente: a vida artificial como vector e sintoma de mudança nas nossas visões de "natureza" e "vida".
A piadinha: pa, desculpem. Andava só à espera de encaixar o oxy moron numa coisa comum e inteligível. Tinha de exorcizar isto.
comeco por dizer que andas a ler muita coisa que eu também quero ler..:P Andas a ler coisas interessantes; a sair do "caminho seguro"; eu cá não ando a arriscar muito...
ResponderEliminarQuanto ao anel tinhas mesmo que exorcizar isso senão qualquer dia tinhas um fungo a crescer atrás da orelha esquerda.
Tenho o livro, MJ, posso emprestar-to! Tb está parte no googlebooks (perdes a foto do Einstein vestido de índio.. x) . Sabes que a agenda lisboeta já há muito que esgotou o meu interesse - identidades, migrações, género. Isto só não é um "caminho seguro" nesse espectro limitado e poeirento; existe toda uma antropologia a descobrir - outros objectos e abordagens, velhas propostas reformuladas, passos em frente. É só perder o pudor disciplinar. Observa, lê, pensa, mistura. :)
ResponderEliminarTive sorte, em Coimbra.
"Isto só não é um "caminho seguro" nesse espectro limitado e poeirento"
ResponderEliminarConcordo tanto contigo... Também eu me afastei dessa agenda lisboeta há muito, apesar de ainda lá estar, de certa forma. É fatigante, repetitiva, sempre à volta de si própria, como uma pescadinha de rabo na boca com medo de tirar o rabo da boca. Afastei-me disso porque senti, exactamente, esse "espectro limitado e poeirento" de que falas e o pó tem o dom de me causar alergias terríveis =) Acho que cabe a cada um de nós "perder o pudor disciplinar". Eu, por exemplo, tento fazê-lo quando me aventuro por áreas "transdisciplinares" (ou lá como as chamam), áreas "pouco antropológicas" para alguns, mas que dão um gozo tremendo ao permitirem misturar tudo, pôr em causa certas coisas, etc, etc, etc. Não sei se bem ou mal, mas gosto de abrir o leque, e acho que isso falta a muita gente, sobretudo da "agenda lisboeta". Mas, enfim, isso são divagações da minha cabeça. =P
Quanto às questões da vida artificial, acho isso MUITO interessante, sobretudo por porem em causa, exactamente, a perspectiva do que é a "natureza" e a própria "vida". E o que são esses dois conceitos senão conceitos? O ser humano, demasiado "angustiado", gosta tanto de conceitos... E é tão bom quando surge algo, como a própria paradoxalidade (aparente) da "vida artificial" (também ela um conceito, mas enfim), que os descontrói! Adoro essa parte :)
Boa sorte com essas pesquisas!
** Filipa S.
Concordo plenamente!
ResponderEliminarFilipa S. do mestrado???
Sim, a "caladinha" =P
ResponderEliminarFilipa, bem vinda! (A "caladinha"??) Sim, também tenho uma tremenda alergia ao pó, ainda mais a essas pescadinhas. Não digo que as linhas estejam erradas, ou que venha aqui salvar a escola - coitadinha, pf.. -, o problema é que falta uma "perspectiva de falcão", ou assim parece. Um "O que é que aqui andamos a fazer?". É que se é mesmo para estudar o homem, então bora nisso! Utilizemos o que estiver ao nosso alcance! Nunca saberemos tudo, mas se partirmos do princípio que somos auto-suficientes, morremos. E temos andado mortos. A repetir a mesma fórmula vezes e vezes sem conta. Apesar da ingenuidade e arrogância, confesso que aprecio muito o esforço dos clássicos. Na procura do holismo, não tinham este respeito absurdo à fronteira(ah!) do que "é" e "não é" antropológico. A transdisciplinaridade nunca devia saber a esticar-a-corda.
ResponderEliminarSim. Assistir à transformação do que nos parece mais garantido e essencial dá direito à maravilhosa sensação de que, apesar de tudo, vale muito a pena estar aqui, nas ciências sociais. Vou ficar atenta ao calçar e descalçar destas botas. ;)
**
oh Filipa Soares que prazer!!! LOL Era só para saber quem era:D
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ResponderEliminarIsto faz-me lembrar uma "Alegoria da Caverna" adaptada, onde muitos parecem ainda estar demasiado presos ao conforto das cadeiras e à segurança das paredes da "caverna". Também não digo que está errado... Só não consigo perceber a quase aversão ao holismo, à transdisciplinaridade, a essa "perspectiva de falcão". E o pior é que essa "aversão", não é só dentro da antropologia, pelo menos sinto muito isso. Bem, mas se for dissertar acerca destas coisas nunca mais daqui saio e não quero estragar este teu espaço =P
ResponderEliminarNietzsche escreveu brilhantemente um dia isto: "And those who were seen dancing were thought to be insane by those who could not hear the music." Pode ser que um dia a música seja escutada por todos, além fronteiras (grrrr), e a "insanidade" passe a ser vista como saudável... Assim o espero =)
P.S. Desculpa ter invadido este espaço... Sou "caladinha" por natureza mas quando me ponho a escrever e divagar, lá se vai parte da timidez. ***
Oh Filipa, christ, Invade-me/nos! Invade o soldados com toda a tua vontade de escrever! Adoro que comentem, a sério. Ao post anterior respondi que o melhor deste espaço se passa aqui, neste apêndice de palavra-puxa-palavra. É óptimo e agradeço, agradeço a Contribuição. (Tb eu, q n sou tímida, prefiro escrever a falar, sai melhor, obriga-me a pensar com mais calma.) E não te preocupes, já escrevi aqui coisas tão parvas e obscenas que...enfim, tenho quase a certeza que este blog é indestrutível.
ResponderEliminarBonita citação. "Lá fora" também andam assim? Achava que a trans e interdisciplinaridade estavam super na moda. Hum.. Se te apetecer, conta-nos.
Obrigado :)
ResponderEliminar"Lá fora" não faço ideia, mas acho (e espero) que não. Não vejo a hora de terminar o mestrado para me por a andar daqui para fora. Já era para o ter feito, mas sem bolsas não dá e resolvi adiar mais uns anos... Pode ser uma ideia demasiado "romântica", mas acho mesmo que "lá fora" há mais abertura e mais coisas. A ver vamos ;)
A "aversão" de que estava a falar é, por exemplo, entre a biologia e a antropologia no campo da conservação da biodiversidade (o meu trabalho enquadra-se aqui). Sempre tive um pé na antropologia e outro na biologia e o plano da conservação parece-me perfeito para "conciliar" ambas: é impossível conservar sem conheceres as espécies, sim, mas também não consegues "conservar" as espécies se a população local que com elas coabita estiver "contra" ou pouco sensibilizada. A mim parece-me "óbvio", mas, pelo menos no contexto nacional e na prática, os biólogos da conservação não pensam assim e acham (arrogantemente, por vezes) que sabem tudo (não digo todos, claro).
Neste campo temos de travar duas "lutas", no fundo: dentro da antropologia (o "tabu" da transdisciplinaridade, das temáticas não-tradicionais, da vertente prática, etc) e com outras disciplinas em cujas fronteiras se caminha. É desgastante, por vezes, mas no fim as coisas que dão luta têm outro sabor :)
Percebo. De facto parece fazer todo o sentido juntar as disciplinas nos propósitos da conservação! O meu "lá fora" nem era geográfico, era discipliniar.. Porque tenho ideia que o pessoal das ciências naturais não se rala tanto com as fronteiras dos saberes. O que interessa é um bom projecto e uma abordagem inteligente - foi pelo menos o quadro que me pintaram. Lá fora-lá fora, sim, talvez, acho que nem é uma tendência nova...! Vem do pós-modernismo e de alguma inspiração new age, não é? Especialmente na inv tecnológica - química, física, biologia, engenharia, medicina, informática..torna-se difícil distingui-las. O trabalho em equipa é supervalorizado. (Se calhar tb estou só a ser romântica. :P ) Enfim. Aqui nem é um tabu, é uma retrogradice. É uma parvoíce. É uma acanhadice. Ai que grande acanhadice! Como se não falássemos e escrevessemos todos na mesma língua.
ResponderEliminarE quando tento explicar que estudar computadores e robots-que-fazem-citroens-picasso não é muito diferente do que a equipa do Jorge Dias fez com os arados, they go "o_O".
Desculpa, entendi mal o "lá fora", então ;) Também tenho a sensação (romântica?) de que as "fronteiras" dentro das ciências naturais são muito mais permeáveis, mas não sei até que ponto essa permeabilidade é sempre pacífica... Dava uma bela investigação ehehe
ResponderEliminarAgora as "fronteiras" entre as ciências naturais e as ciências sociais... Está em causa o próprio conceito de "ciência" aplicado ao "social", seja lá o que isso for, e o próprio dualismo mais-que-irritante "natureza"/"sociedade", demasiado embrenhados na nossa "cultura". Enfim... Retrogradice, parvoíce, acanhadice (ahaha), tudo o que se quiser. Alegra-me saber que não sou a única =)
Percebo-te perfeitamente... Também sinto muitas vezes esse "o_O". Gostava tanto de um dia assistir a uma dessas explicações dos computadores/arados (brilhante!). Pagava!! É o que eu digo, ainda está lá tudo na caverna, agarrado ao Jorge Dias e companhia (nada contra, atenção) e não dão o salto a partir dessa base, não se "actualizam". É preciso uma inundação na caverna, se calhar =P
Agora estou curiosa, o teu trabalho é sobre o quê, ao certo? ;)
Apropriações artísticas das biotecnociências! (O título provisório é um pomposo "Arte, Ciência e Responsabilidade Social".) Estive a observar e a recolher impressões de artistas e público a partir de uma exposição que aconteceu na cordoaria nacional (http://www.inside.com.pt/), dedicada à "Arte e Ciência" - uma nova corrente que utiliza técnicas de biologia, química, robótica, matemática, informática... para produzir arte. O meu enfoque são sobretudo as questões éticas. Tentar perceber o que motiva estes artistas e que espécie de salvaguardas fazem e, depois, no lado do público, compreender como recebem isto, que medos ou discursos de progresso invocam.
ResponderEliminarAfinal a técnica vai para além da "utilidade prática", tem também um sentido emocional e político. Ela expõe, choca, glorifica, contesta, recria a experiência estética, provoca reflexão sobre categorias muito especiais na cultura ocidental - vida, natueza, humanidade...
A analogia dos arados, ahah, tenho de por isso por escrito, definitivamente. x)
Muito, muito, muito interessante :) Estive para ir ver essa exposição, mas coincidiu exactamente com a minha ida para a Serra da Estrela (estou lá a fazer o trabalho) e com a primeira fase do trabalho de campo.
ResponderEliminarEsse tema dá pano para mangas e podia começar aqui um "interrogatório", mas vou deixar isso para outra altura =P
Em relação à analogia, não é muito difícil entender, mas por escrito ainda deve ser melhor ehehe