“Neste contexto, a morte já não é considerada o fim da vida, mas um fracasso da medicina.” (230)
Laura Bossi, sobre o projecto da a-mortalidade
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28 de fevereiro de 2009
a ciência terá limites?
Conferência Gulbenkian 2007
É quase-quase unânime: a ciência tem os seus limites, nem que sejam os extremos conjugados da capacidade cognitiva humana, fruto do seu percurso evolutivo, e dos constrangimentos sociais que envolvem a produção de conhecimento científico. Até aqui tudo bem, mas a coisa complica-se quando falamos do momento final, da aproximação, ou não, do fim da ciência. Os autores dividem-se de forma curiosa: os mais próximos das temáticas sociais, tendem a enfatizar a actual “crise da ciência”. George Steiner, org. da conferência, enumera-lhe alguns aspectos: a separação da ciência em relação ao humanismo e a formação “das duas culturas”; os problemas de comunicação resultantes da progressiva fragmentação das disciplinas em sub-especialidades (ideia que alguém critica com o amigo Google); o isolamento das instituições científicas e a fraca cultura científica pública; o desapontamento e desconfiança em relação à ciência que marcou a segunda metade do séc.XX; o aumento da superstição. John Horgan, que é assim a “ovelha pessimista” da conferência, afirma mesmo que acabaram as revoluções científicas – as grandes lógicas estão todas descobertas –, e que a partir de agora só devemos contar com o prolongamento dos paradigmas vigentes. Helga Newotny sublinha o afastamento entre prática científica e experiência humana, através da autoridade da primeira na constituição de conhecimento; Laura Bossi fala do universal do desejo de imortalidade, que a medicina tenta constante e frustradamente realizar através da procura da a-mortalidade (!). Por outro lado: os físicos e os biólogos, que depositam grande esperança no que ainda existe por descobrir e no princípio humano da curiosidade. A astronomia, a física de partículas, as neurociências e a compreensão da origem da vida aparecem como jovens promessas de entretém científico para as próximas dezenas de anos. As dificuldades tecnológicas que alguns projectos enfrentam são referidas como temporárias e, a propósito da teoria das cordas (ao que parece muito importante para a unificação das teorias físicas dominantes, mas não-verificável (o que chateia uns mais do que outros)), é sugerida a necessidade de uma reflexão epistemológica profunda e actual – os popperazzis são os bobos recorrentes.
Por fim, o Prof. Doutor J.C. parece querer mandar as ciências sociais para qualquer lado que não percebo muito bem onde fica: “Porquê, então, a pertinência da questão de George Steiner sobre os limites? Porque ela radica na separação que a modernidade construiu entre a cultura da filosofia e das humanidades e a cultura da ciência, que as ciências sociais tentaram superar sem êxito, ao afirmarem-se como uma terceira cultura, uma espécie de ponte entre as outras duas.” (202). Não que discorde profundamente, mas pronto, é a única vez que as ciências sociais são [explicitamente] chamadas ao assunto… [bitaites!]
Uma pessoa folgada vai passeando entre livros e esfregam-lhe esta pergunta na cara; como resistir? (Se acham que seria fácil seguir em frente sem trazer o texto para casa, guardem-no para vocês e tomem isto apenas como mais uma mania para juntar ao rol-distintivo.) Então, eu cá achei que devia saber se a ciência tem limites, ou não, e quais, e porquê, e o que é que se diz por aí, e quem é que se chateia com quem… (As conferências Gulbenkian têm sempre este último carácter novelesco, que muito aprecio.) E como não sou egoísta, vou fazer um bocadinho de trabalho de spoiler, e dar-vos a resposta que encontrei, mesmo sem terem de pagar nada! (Não garanto rigor nem equidade, até porque não percebo nada de física.)
É quase-quase unânime: a ciência tem os seus limites, nem que sejam os extremos conjugados da capacidade cognitiva humana, fruto do seu percurso evolutivo, e dos constrangimentos sociais que envolvem a produção de conhecimento científico. Até aqui tudo bem, mas a coisa complica-se quando falamos do momento final, da aproximação, ou não, do fim da ciência. Os autores dividem-se de forma curiosa: os mais próximos das temáticas sociais, tendem a enfatizar a actual “crise da ciência”. George Steiner, org. da conferência, enumera-lhe alguns aspectos: a separação da ciência em relação ao humanismo e a formação “das duas culturas”; os problemas de comunicação resultantes da progressiva fragmentação das disciplinas em sub-especialidades (ideia que alguém critica com o amigo Google); o isolamento das instituições científicas e a fraca cultura científica pública; o desapontamento e desconfiança em relação à ciência que marcou a segunda metade do séc.XX; o aumento da superstição. John Horgan, que é assim a “ovelha pessimista” da conferência, afirma mesmo que acabaram as revoluções científicas – as grandes lógicas estão todas descobertas –, e que a partir de agora só devemos contar com o prolongamento dos paradigmas vigentes. Helga Newotny sublinha o afastamento entre prática científica e experiência humana, através da autoridade da primeira na constituição de conhecimento; Laura Bossi fala do universal do desejo de imortalidade, que a medicina tenta constante e frustradamente realizar através da procura da a-mortalidade (!). Por outro lado: os físicos e os biólogos, que depositam grande esperança no que ainda existe por descobrir e no princípio humano da curiosidade. A astronomia, a física de partículas, as neurociências e a compreensão da origem da vida aparecem como jovens promessas de entretém científico para as próximas dezenas de anos. As dificuldades tecnológicas que alguns projectos enfrentam são referidas como temporárias e, a propósito da teoria das cordas (ao que parece muito importante para a unificação das teorias físicas dominantes, mas não-verificável (o que chateia uns mais do que outros)), é sugerida a necessidade de uma reflexão epistemológica profunda e actual – os popperazzis são os bobos recorrentes.
Por fim, o Prof. Doutor J.C. parece querer mandar as ciências sociais para qualquer lado que não percebo muito bem onde fica: “Porquê, então, a pertinência da questão de George Steiner sobre os limites? Porque ela radica na separação que a modernidade construiu entre a cultura da filosofia e das humanidades e a cultura da ciência, que as ciências sociais tentaram superar sem êxito, ao afirmarem-se como uma terceira cultura, uma espécie de ponte entre as outras duas.” (202). Não que discorde profundamente, mas pronto, é a única vez que as ciências sociais são [explicitamente] chamadas ao assunto… [bitaites!]
26 de fevereiro de 2009
a angústia e o futuro
Dizia assim no Diário de Notícias, e eu achei curioso:
“Estão as redes sociais a mudar o nosso cérebro? Veja a resposta :-)
...
Uma prestigiada neurologista britânica diz que os efeitos culturais e psicológicos das relações online vão mudar o cérebro das próximas gerações: menos capacidade de concentração, mais egoísmo e dificuldade de simpatizar com os outros e uma identidade mais frágil são algumas das consequências que Susan Greenfield antecipa.
O alerta da especialista surge na mesma semana em que foi divulgado que Portugal é o terceiro país europeu que mais utiliza as redes sociais na Internet …
Além disso, salienta a preferência pelas recompensas imediatas, ligada às áreas do cérebro que também estão envolvidas na dependência de drogas.
Para Álvaro de Carvalho, neste momento, ainda estamos a assistir à implementação d e um novo modelo e por isso há muita especulação. "Há mais perguntas que respostas", reconhece o psiquiatra."
(Esta última parte não tem tanta piada, aparece por uma questão de justiça com a realidade…)
O alerta da especialista surge na mesma semana em que foi divulgado que Portugal é o terceiro país europeu que mais utiliza as redes sociais na Internet …
Além disso, salienta a preferência pelas recompensas imediatas, ligada às áreas do cérebro que também estão envolvidas na dependência de drogas.
Para Álvaro de Carvalho, neste momento, ainda estamos a assistir à implementação d e um novo modelo e por isso há muita especulação. "Há mais perguntas que respostas", reconhece o psiquiatra."
(Esta última parte não tem tanta piada, aparece por uma questão de justiça com a realidade…)
Não têm medo???
Proíbam o Twitter, pelo bem dos nossos irmãos mais novos!
(O facebook não, que isso eu uso de vez em quando.)
24 de fevereiro de 2009
prisma
Daqui a algumas horas poderão assistir em http://a-sup.blogspot.com/ à curta “Prisma”, uma produção SetUp para o VIII Concurso de Vídeo do Barreiro 2009. Unidos pela vontade de fazer qualquer coisa criativa, TM, PR e PL montaram, em poucos dias, “um intrigante enredo no qual a interpretação será a melhor ferramenta do espectador”. O objectivo é deixar a leitura do “Prisma” em aberto, e promover a troca de impressões. Da minha parte, que já vi o filme, confesso que não lhe extraí grande lógica; fiquei com a sensação do what’s the point?. Mas a reacção da audiência foi bastante variada, sugiro que tirem as vossas conclusões e que deixem lá os vossos comentários.
Giro giro é reparar nos ângulos escolhidos, num momento ou noutro da banda sonora (bem rudimentar, como mandam os direitos de autor!), e descobrir com que recursos é que isto foi feito... (Não conto, que diz que é a alma do negócio. ;D ) Vejam.
Giro giro é reparar nos ângulos escolhidos, num momento ou noutro da banda sonora (bem rudimentar, como mandam os direitos de autor!), e descobrir com que recursos é que isto foi feito... (Não conto, que diz que é a alma do negócio. ;D ) Vejam.
la vache merveilleuse
No passado dia 16 tive oportunidade de assistir ao fecho do Ciclo Homenagem a Jean Rouch, no Instituto Franco-Português. Passaram “En une poignée de mains amies” (1997), onde Rouch e Manoel de Oliveira experimentam visualmente um poema sobre o Douro, do MO, e “Mosso mosso, comme si” (1998), de Jean-André Fieschi, senhor do qual nunca tinha ouvido falar, mas que me arrancou boas gargalhadas.
Em “Mosso mosso”, depois de uma conversa sobre 68 num café parisiense, Fieschi segue Rouch numa viagem a Àfrica, adoptando uma atitude muito vérité – não intervém, raramente narra ou faz perguntas, apenas regista os eventos que, a serem planeados, são-no pelo próprio Jean Rouch, na orquestração de algumas cenas para o seu projecto “La vache merveilleuse”. É assim que, inesperadamente, o filme se torna uma espécie de making off da ideia louca de Jean Rouch e dos amigos (um dele já morto, mas presente); convido-vos a chorar a rir com os segundos de Rouch contando a história das vacas e da ponte! Percebemos como é que funciona a tal coisa da etnoficção (Comme si!), ficamos também com a sensação de que conhecemos um pouco mais o autor, até de uma certa intimidade. É exposta a sua relação com os amigos, principalmente com Damouré Zika, uma presença muito importante nos seus filmes. A certa altura vemos um Rouch muito colonial, o “branco mandante”; uma senhora que passa sugere que Zika gosta muito do dinheiro de Rouch, este desconversa. Rouch, normalmente bem disposto e meio louco, anda torto, apoiado numa vara.
Em “Mosso mosso”, depois de uma conversa sobre 68 num café parisiense, Fieschi segue Rouch numa viagem a Àfrica, adoptando uma atitude muito vérité – não intervém, raramente narra ou faz perguntas, apenas regista os eventos que, a serem planeados, são-no pelo próprio Jean Rouch, na orquestração de algumas cenas para o seu projecto “La vache merveilleuse”. É assim que, inesperadamente, o filme se torna uma espécie de making off da ideia louca de Jean Rouch e dos amigos (um dele já morto, mas presente); convido-vos a chorar a rir com os segundos de Rouch contando a história das vacas e da ponte! Percebemos como é que funciona a tal coisa da etnoficção (Comme si!), ficamos também com a sensação de que conhecemos um pouco mais o autor, até de uma certa intimidade. É exposta a sua relação com os amigos, principalmente com Damouré Zika, uma presença muito importante nos seus filmes. A certa altura vemos um Rouch muito colonial, o “branco mandante”; uma senhora que passa sugere que Zika gosta muito do dinheiro de Rouch, este desconversa. Rouch, normalmente bem disposto e meio louco, anda torto, apoiado numa vara.
23 de fevereiro de 2009
algemas invisíveis
"Amal, empresa do sector metalomecânico, Setúbal.
Trinta jovens vietnamitas são contratados por três anos como soldadores, para ganharem 3euros à hora, quando um soldador típico ganha 10 (ainda que não totalmente declarados). Como é que isto acontece? Ora, estes rapazes estão legais no país e a sua condição é tida como regular. ..."
O resto em http://direitosehumanos.wordpress.com/.
O Propósito
Mais giro do que os óscares e essas coisas todas glamorosas, é, não gostando muito do carnaval, sair à rua nesses dias estranhos e tirar fotos que fundamentem o nosso desconforto. Ia pronta para fazer nascer o amador-horror, um estilo de fotografia inédito, cheio de "pernas para andar", quando este senhor-senhora me lembrou das antropologias do carnaval e do cerne da questão.
Acho que valeu pelo resto do corso. Porreiro.
Entretanto, este era o propósito inicial do blog: divulgar o amador-horror. Pousinho, duvidaste? ;D
Um dia explico o título; para já ficam com a alternativa que não vingou: "A Sorte e as Favas".
Descobri depois que isto até tinha qualquer coisa de esperto (reparem).
Bem-vindos ao soldados-vírgula!
Não planeei muito, mas prevejo um espaço...idiossincrático.
Descobri depois que isto até tinha qualquer coisa de esperto (reparem).
Bem-vindos ao soldados-vírgula!
Não planeei muito, mas prevejo um espaço...idiossincrático.
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