28 de abril de 2009

antropologia aplicada

“Antropólogos, a arma secreta das empresas”
Público, 17/04/09

Isto da ética é com cada um, já havia discutido com colegas a propósito dos antropólogos nas Human Terrain Systems; e com a falta de emprego que anda por aí, ao menos era ver pessoal a fazer coisas criativas e úteis. Oremos.

20 comentários:

  1. Claramente eles não sabem a diferença entre uma pessoa do marketing e um antropólogo. Mas dar um nome diferente a algo que já tem uma conotação tão negativa costuma resultar com o cliente =D

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  2. É diferente passar a ideia para o consumidor que a organização se preocupa em produzir/servir o cliente com algo que ele precisa - nós somos especiais, temos antropólogos a colaborar connosco; do que ter uma equipa vasta de pessoas a tentar inventar ideias novas de impingir coisas de que o cliente não precisa - nós somos uns sacanas, temos pessoal do marketing a tentar arranjar novas maneiras de vos vender coisas que não precisam.

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  3. Ah, sim, claro. Mas acho que a maioria da classe está "aware" dessa jogada. Na verdade, pensei logo no antropólogo como um "marketeer", pior até! Um marketeer super-informado, que explora um grupo usando os seus próprios símbolos - daí ter levantado a pontinha da ética. Por ve-lo assim, n sinto grande diferença entre antropólogo e pessoa do marketing, nestas funções, neste meio. (E tb não é coisa que me incomode, a inexistência de diferença. Os diplomas valem o que valem, não é?) **

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  4. (Mas ainda assim, deixa-me acrescentar, duvido que o pessoal do marketing se dê ao trabalho de fazer grande trabalho etnográfico...)

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  5. Hmmm...éticas á parte...Quando é que fazemos a sociedade mesmo? Vou mandar currículos para todo lado com isto agarrado!

    Agora é que isto vai para a frente...

    É verdade, um diploma vale o que vale, e se puder fazer trabalho na minha área, em vez de vender óculos de sol, estou disposta a vender a alma á Nokia, ou á Xerox, ou a qualquer outra mesmo!

    Joana

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  6. Como a ética não é uma coisa quantificável, esta é difícil de aplicar quando o teu salário depende da avaliação de parâmetros onde figuram coisas como retorno de investimento.
    Além do mais, hoje em dia já existem sistemas de informação de Customer Relationship Management - para gerir a relação entre o cliente e a organização; Business Intelligence - para extrair dados informativos sobre padrões, entre outra informação, dos clientes e serviços.
    Quem usa esta informação geralmente são as pessoas de gestão e de marketing das organizações, para poderem tomar decisões informadas em relação a serviços e produtos para os clientes.
    De qualquer maneira parece-me mais exótico eu colaborar com um antropólogo do que com um fuinha do marketing, se bem que se forem do género feminino talvez prefira do marketing xD

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  7. Se calhar vou parecer um pouquito ignorante mas sabias que existe um código do antropólogo? Na prática é um código de ética, ou juramento, na sua génese, muito semelhante ao de um médico...Eu desconhecia por completo este código, o que é uma tristeza depois de 4 anos de uma licenciatura em Antropologia...mas enfim.
    A partir da minha interpretação dos cânones desse código considero muito pouco ético um antropólogo que trabalha para grandes empresas de marketing e aqueles que colaboram com exércitos (como os nossos colegas americanos). Esse código pode ser consultado na Associação Portuguesa de Antropologia.
    No entanto compreendo que na nossa àrea, em que as saidas profissionais não abundam esta possa ser uma saida interessante e que põe comida na mesa.
    Continua o bom trabalho...E como está Coimbra?

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  8. Como dizes, tudo vale para levar comida à mesa, e a ética pode ser facilmente esquecida nesses pontos. E há outras questões a ter em conta. Esses americanos de que falaste podem achar que a ética pode ser posta de parte pelo bem para com o seu pais. Não é muito antropológico, mas o problema de se ser antropólogo é que não se deixa de ser humano, certo?
    Eu, pelo meu lado, creio que não me importava de tornear o código se isso me desse comida e tecto. Mas já depende do contexto, também. Poderia ajudar um exército, mas não sei faria todas as tarefas de um gang (como matar :S), se estivesse a fazer alguma investigação under-cover.
    Mas é a minha opinião...

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  9. Ah, tão bom! Eu sabia que este tema não era nada fácil! Eheh. Acho que aqui o debate pode ficar redundante, mas a minha opinião é a seguinte: existe procura de pessoas para determinadas funções; certas pessoas estão mais aptas a satisfazê-las do que outras, mas isto não é resultado directo do nome e da média que tens no diploma (estes devem servir de indicadores, à falta de melhor avaliação). A ética: vejo-a como um esquema de conduta pessoal. Existem esses códigos, é verdade; talvez a APA só aceite sócios que os cumpram. Mas também a APA é uma organização, devemos respeitá-la enquanto isso, não mais. As decisões são de cada um. Posso discordar, ou posso concordar com essas decisões (o mesmo para os códigos!). Posso até discordar só até certo ponto: ex. 'porra, aquela família tem de comer'. Posso fazer barulho, ou calar-me. Eu tenho alguma fé na 'consciência', o que tb é uma tolice, pq a minha consciência não é igual à vossa - quer isto dizer que as relações sociais podem ser a grande desilusão da vida? Talvez. Talvez não. Isto é mesmo complexo. O melhor é mesmo não ter grande coisa por adquirido/fixado e discutirem-se as situações caso a caso, parece-me mais sensato.

    Coimbra está muito bem, a preparar-se para a queima... :D

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  10. (s7alker, vi o teu comment depois, mas acho que estamos alinhados)

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  11. Penso que não deve ser fácil encontrar alguém que tenha passado vários anos a estudar antropologia que defenda a existência de "raças" e, mais ainda, a superioridade de umas sobre outras. Mas, deve ser igualmente difícil encontrar entre estas pessoas, entre todos nós, uma que nunca tenha tido uma atitude xenófoba ou racista na vida. Só quem se encerra em casa ou noutra qualquer torre de marfim está imune a atitudes, pensamentos ou actos menos "éticos". Isto serve para exemplificar - ou tentar - o que penso sobre as dificuldades que a antropologia tem nas relações com o mundo real (leia-se social) quando sai das academias e centros de investigação e tenta "ganhar a vida" exercendo a sua profissão no mundo da tão pejorada "antropologia aplicada". A consequência desta "ética" de fechamento tem sido o não reconhecimento pelas instituições exteriores às academias da utilidade social da antropologia e... o desemprego dos antropólogos. Não me repugna absolutamente que a Nokia, a BBDO e outras empresas reconheçam que a perspectiva da antropologia é inovadora e enriquece o conhecimento dos fenómenos sociais. Trabalhar para o capitalismo selvagem e para o mercado de consumo desenfreado pode (ou não...) ser uma opção individual do cientista social, não pode - penso eu - é definir campos de ética ou não ética profissional em abstracto. Também é ilusório pensar que os trabalhos de investigação publicados em revistas de circulação norrmalmente restrita ao meio científico não possam ser lidos por empresários gananciosos e dar-lhes ideias giras como melhor enganar o consumidor ou explorar o trabalhador. Ou seja, a torre de marfim do meio académico também não é inviolável nem é assim tão segura e não protege a investigação antropológica de maus usos sociais. A profissão de antropólogo tem um código de ética, como qualquer profissão. Mas éticas há muitas e há opções que são meramente da esfera individual.

    Questão complexa, sim. Analisável somente caso a caso, sim. Difícil de generalizar, sim. Mas gostava muito, mesmo muito, de ver reconhecido que os antropólogos são cada vez mais necessários em cenários e contextos difíceis, complexos e desafiadores. E, ingenuidade minha, talvez, mas gostava de me manter convencida que a formação em antropologia nos torna pessoas mais reflexivas sobre as relações sociais, menos fáceis de "enrolar" e mais intervenientes em situações sociais complexas. Mais críticas. Logo, mais úteis socialmente. Mas isso só pode ser provados nos "campos de batalha"...

    (Desculpa o tamanho a qu'isto chegou!)

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  12. Obrigada C!

    O problema é que nem sempre existe relação directa entre reflexão e participação social/política, não é? - os "intelectuais orgânicos" gramscinianos (o curso de pens crítico vai mt bem :p ), alinhados com o bloco hegemónico, produtores de cultura... - De novo, 'a torre de marfim'. Precisavamos de uns mestres mais destemidos?

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  13. Olá.
    Na sequencia deste tema e do comentário da Sra. Soraia venho sugerir-te que faças uma postagem sobre alguns artigos do, para mim desconhecido, código de deontologia do antropólogo. Era fixe debater alguns assuntos, o que achas?
    Cumprimentos.

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  14. vou procurar novamente o código pelo imenso universo que é a web para tentar por aqui o link.
    Mas o código não é nada de mais, apenas dá algumas directizes que protegem os "objectos de estudo" (desculpem o termo mas não me ocorre nenhum melhor) das conclusões da investigação do antropólogo. Diz também, isto para dar um exemplo, que se um trabalho antropológico for encomenda de um governo ou de uma instituição o antropólogo tem o direito e o dever de se recusar a cumprir o contrato se achar que o resultado do seu estudo pode influenciar de forma negativa qualquer aspecto da vida das pessoas que estudou. não me levem a mal, e valores pessoais a parte, mas um antropólogo que estuda a psique e o comportamento humanos durante anos a fio para aumentar as vendas de uma empresa como a xerox, ou que se aproxima de um grupo para entender qual a melhor forma de o exército americano se aproximar desse mesmo grupo (quando o exército americano é o invasor do seu país, e de forma hostil, como no caso dos terrains no Iraque) está a violar claramente este principio, que na minha visão do que deve ser um antropólogo é um sacramento...já chega de Antropologia a moda do colonialismo!!! Sorry pela opinião não quero ofender ninguém...quanto à comida na mesa também estou à uns longos 6 meses à procura de emprego na minha àrea por isso sei o que é o desespero de querer trabalhar na àrea e não conseguir...Antropologia à moda Portuguesa!lol

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  15. Soraia, viva. Estou de acordo contigo. Ajudar o exécito americano no Iraque ou no Afeganistão a "compreender" as culturas locais, ou qualquer grande empresa a estimular apetites consumidores para aumentar lucros (e despedir pessoal, com a desculpa da crise, para manter esses mesmo lucros=salários dos gestores), são maus usos da antropologia. O problema é que para defender a antropologia, ou o conhecimento que a antropologia permite ter de certos contexos, destes maus usos, se acaba por defender (praticar) um conhecimento limitado a debates teóricos e sem alicação prática na realidade social. E esta postura tem muito a ver com a má consciência colonial da antropologia, uma culpabilidade ainda não ultrapassada, apesar das tentativas - falhadas, acho... - de reconstruir objectos de estudo e aproximações teóricas menos culpabilizantes (dos anos 80 para cá?). Talvez seja possível dar uma outra volta à coisa, sei lá. Pessoalmente, não aceitaria trabalhar nem no exército, nem na xerox. Como disse a Liliana num comentário acima, há um hiato entre a reflexão e a prática e é necessária uma ponte. Que ainda não existe, penso. Uma coisa é certa: a formação que tivemos nos últimos 3 ou 4 anos não contribuíu para termos uma resposta mais clara. Sempre ouvi denegrir a antropologia aplicada, agitar o papão da ética e não mencionar sequer a questão das saídas profissionais. Saída para a licenciatura em antroplogia? Fazer o mestrado...

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  16. Só mais uma achega. Um excerto do Boletim nº 1 da APA (Janeiro 2007) é bastante elucidativo:
    "IMAGEM PÚBLICA DA ANTROPOLOGIA EM PORTUGAL
    Estamos já a programar uma iniciativa para ajudar a consolidar a imagem pública da
    antropologia em Portugal, nomeadamente mostrando ao grande público, através dos
    meios de comunicação social, a diversidade de áreas temáticas sobre as quais os
    antropólogos têm comentários e conhecimento válido a transmitir.(...)"

    O sublinhado é meu. Comentários e conhecimento é (só?) o que os antropólogos têm para oferecer? Aliás, transmitir, segundo as palavras da APA, que é bastante diferente de oferecer. Também não dizem como. Deduzo eu, talvez abusivamente, que seja através de esclarecedoras notas à imprensa e análises publicadas em revistas da especialidade... E a validade: como se demonstra?

    Desculpem lá, mas será que é evitando o mercado de trabalho que conseguimos arranjar... trabalho? E será que é evitando aplicar os conhecimentos que se resolve este paradoxo da (in)utilidade social da antropologia?

    Também só tenho perguntas. E muitas dúvidas.

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  17. Correcção: no exército tenho a certeza que não aplicaria conhecimento algum. Mas na xerox? Sei lá... depende. Como dependeria noutra empresa qq, grande, média ou pequena. E depende de quê? Dos meus valores pessoais, da minha ética, da deontologia da profissão antropológica,... e dos meus gostos e inclinações, por cenas tão prosaicas como o local de trabalho ser em Alguidares de Baixo, de Cima ou na China, ter um gabinete com janela, o salário ser adequado, o horário de trabalho, as condições de segurança social, sei lá... tudo aquilo que nos leva a aceitar ou negar uma oferta de trabalho.

    Haja ela, a oferta! E em antropologia, melhor ainda! :-)

    E agora vou-me calar... Lol

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  18. Eh lá!!! oh liliana 18 comentários só mesmo a antropologia...

    Ai Joana Joana as nossas angústias...

    Quanto à ética a coisa complica-se e parece-me que a Cristina sintetiza bem a coisa. Agora é certo que a torre de marfim só nos isola a nós, antropólogos, do mundo, mundo onde aliás deveríamos estar e querer ser inseridos, em nada impede que esses empresários ganaciosos venham "beber à mesma fonte".
    Acho que o problema é, sobretudo, um problema de preconceito por parte da academia que não tem trazido, ao longo dos anos, qualquer espécie de beneficios; lá vemos os sociólogos ( às vezes sem saberem o que estão a fazer) abrir caminhos e os psicólogos envolvidos em tudo aquilo que de alguma forma se possa considerar social e nós, pobrezitos, somos demasiado intelectuais para qualquer confronto no mundo exterior...quanto à ética, mais uma vez, é mais um esquema de conduta pessoal, como diz a Liliana do que propriamente um código a seguir sem quaisquer restrições.

    Ai cristina antes eram só certezas hoje em dia são só dúvidas.E ainda bem!

    Fico-me por aqui por dois motivos: primeiro porque me apetece e segundo porque me parece de extremo mau gosto a Liliana ter um blog muito mais interessante que o meu..apenas frivolo e cheio de banalidades.x'D

    Mas Soraia ainda bem que falaste nisso do código uma vez que também não tinha conhecimento dele.

    Fiquem como quiserem e bem vos apetecer!

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  19. Sobre a APA: de facto não compreendo que esforços faz para melhorar e regular a profissão em portugal. A julgar por essa estratégia da visibilidade da "contribuição intelectual/crítica", não vamos longe, não. Não há mta gente a querer fazê-lo nos órg. de comunicação mais influentes - tv?! - e, mais importante, não consigo ver como é que isso pode cobrir e alimentar cento e tal lic em antropologia que saem por ano! É como dizes, Cristina, "só" comentários e conhecimento?

    Obrigada a todos pelas contribuições. Sobre a ética, aprendemos que a elegância das soluções simples não serve a todo o tipo de problemas.

    **

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