Através destas revistas e dos seus eixos fundamentais: beleza, amor, casa, moda, saúde, juventude, “faz-se desaparecer a fealdade feminina e propõe-se um modelo de mulher que deve possuir a sedução da vamp, a capacidade de trabalho do homem, a disponibilidade sexual da prostituta, o aspecto físico da modelo, a cultura da intelectual e a compreensão e bondade da mãe”.*
Considerando a sexualidade feminina um recurso antigo – teorias da evolução apontam para a troca de protecção e alimento por sexo, nas primeiras sociedades recolectoras – e a sua fertilidade como bem inestimável, as culturas tenderam a construir-se codificando fortemente os corpos e comportamentos das mulheres, de forma a gerir as suas potencialidades reprodutivas e estádios ambíguos – a virgindade, o período menstrual e a gravidez encontram-se, normalmente, muito regulados. Seria na continuidade destes universais, que o treino das mulheres, investido desde a infância, apareceria no ocidente contemplando características da reserva sexual, docilidade e beleza física, entre outras. Estes ideais estendem-se à adultidade, momento em que se exige à mulher a gestão sensata dos seus atributos em função de um determinado horizonte de sucesso. Com o advento da modernidade – ou, pelo menos, desde a segunda metade do século XX** –, a domesticidade já não é o ideal de sucesso para a maioria das mulheres ocidentais, transformação social que podemos associar a outras de cariz económico e político. No entanto, apesar das lutas feministas e de uma aparente maior igualdade de género, com as mulheres a demonstrarem uma progressiva maior participação nas várias esferas tradicionalmente masculinas (e o inverso, em relação aos homens no “mundo privado, feminino"), constatamos a permanência das lógicas objectificadoras do corpo feminino. Os ideais actuais não são novos ideais, na medida em que reproduzem estas velhas assimetrias. Parecem ter-se tornado, talvez, mais exigentes, abrindo espaço às questões da competência profissional e da satisfação sexual, por exemplo. Mais do que uma reminiscência, poderíamos imaginar a hipótese desta continuidade como reflexo de construções mais profundas, lógicas culturais de base que parecem dialogar com uma certa biologia. Por outro lado, biologizar não deve servir de desculpa às posturas acríticas [que nos deixam com empregos piores, a ganhar menos e com a cabeça cheia de "medidas certas" e angústias] … [é aqui, naturalmente, que entra o girl power]
*Gallego, 1990: 92, citado por Lourdes Méndez, 1995 ("Recetarios mágico-científicos al servicio de la estética de la delgadez: cuerpos de mujeres, cuerpos de hombres"): 118; tradução minha
ResponderEliminar>linguagem de esboço de trabalho, eu sei :P
mas toda a gente devia pensar um bocadinho sobre isto, homens e mulheres, alguma vez na vida, n? fica a intenção.
**
**chamem-lhe o que vocês quiserem
ResponderEliminare isto tudo a propósito do maior interesse feminino nestas coisaas, normalmente (moda, maquilhagem, dietas, ...).
ResponderEliminarparece-me justo remeter isto para o treino infantil (q reproduz) e para as motivações na vida adulta (representações de sucesso, e sucesso de facto; q reforçam), mas tb se n formos buscar um certo valor adaptativo para a coisa, é assumir a sua gratuitidade! ora, a única coisa gratuita na minha vida é cheirar livros às escondidas, na fnac.
(ou não) (ou não...)
"ora, a única coisa gratuita na minha vida é cheirar livros às escondidas, na fnac.
ResponderEliminar(ou não) (ou não...)" ou sim, ou sim, ou sim...ou sim...ou sim...e nas bibliotecas públicas...e nas privadas de amigos condescendentes...ou sim...ou sim...sim sim...cheirar livros!!!
bang bang*
Com mais tempo prometo falar mais sobre o tema, por enquanto deixo-te os parabéns pelo excelente texto, no entanto e tendo em conta o actual momento/ponto em que nos encontramos, nunca posso aceitar que fales ainda da mulher como objecto sexual – Não o é.
ResponderEliminarSó e unicamente incidindo no aspecto sexual e tendo em conta grande parte da minha formação, nomeadamente na área biológica, como sabes, a mulher tem sempre algo a ganhar, tal como o homem, actualmente e quando falamos de sexo esporádico, será que existe exploração de uma lado para com o outro? Ou será apenas um momento de prazer recíproco?
Temos a tendência a conotar tudo de uma maneira evolutiva, aproveitando a historia que nos interessa em nosso proveito, o que muitas vezes nada tem de benéfico. Eu sou 200 % a favor da paridade entre os sexos, 200 % a favor da homossexualidade, sou 0% a favor de extremismos.
Cumprimentos e bom resto de fim-de-semana.
Nota: Caminho do cinema português (Coimbra), já estas a par, não é?
Nota 2: excelente fotografia, como arte, permites que aprecie sem ser considerado machista…eheheh.
Alô Zé, obrigada pela crítica! Só acho q posso n ter sido bem compreendida - aliás, é mt difícil falar com distanciamento destas coisas, numa grande mixórdia de teorias, sem parecer cínica: tb eu sou mulher, n é?
ResponderEliminarEntão, a minha ideia n era passar essa imagem de "objecto sexual masculino", não pelo menos assim. A mulher é realmente objecto de desejo, também os homens, mas na maioria das vezes não concordamos nas nossas "características prioritárias" quando escolhemos parceiro. Saltando por cima desta parte, concordo ctg que a mulher tire vantagens da sua situação; tb não gosto mt da imagem da "guerra dos sexos", n acho q a biologia nos obrigue a isso (e mesmo q obrigasse, já há mt q a desafiamos: Fuck The System Naturae!!! eheh). Mas Agora: o facto de existirem vantagens NÃO SIGNIFICA que este seja o melhor modelo! Não significa q seja mais igualitário! (Isto tudo a propósito dos ideais de sucesso e dos papéis de género.) Somos produto de uma história machista e se não tivermos a lucidez de olhar para estas coisas assim, sem essencializar, então vamos continuar a reproduzir subtilmente as assimetrias de que falei [muito pouco].
Como quase tudo na vida, tudo é relativo e há sempre excepções. Nem sempre foram um produto de uma história machista...
ResponderEliminarQuem/o quê? Os modelos ou as mulheres? Somos (homens, mulheres, cães, gatos, ...) sempre produto da história e ela tem sido machista. Não percebo, conta-me.
ResponderEliminar... estava a pensar nos tempos matriarcais, estudados nas aulas de história e geografia do 6ªano =P , não nos tempos mais recentes, últimos milénios, em que os homens têm reivindicado uma superioridade face à mulher, ao planeta, what ever é para EU controlar porque tenho uma pila, 'A Pila'.
ResponderEliminarMas talvez não tenha percebido bem ao que estavas a referir-te, porque na realidade tenho sempre imensa dificuldade em perceber o que e sobre o que escreves, para além de ser leigo nas matérias >_<
que raio?! dsclpa, acho q o q escrevi está mt explícito, e tu n és totó: n estarás a ser preguiçoso? os 'tempos matriarcais'...n aprendi nada disso no 6ºano. sei q existem para aí umas teorias feministas (dos 70s?) sobre um início matriarcal da humanidade, mas acho q foram descartadas. se calhar estás a pensar naquelas figuras de vénus e nos cultos da fertilidade, mas isso n fazia da mulher “a chefona”. talvez fossem tempos mais igualitários, mas não a inflexão do q tivemos até hoje...!
ResponderEliminarpara os momentos q podem ter sido menos claros: http://merciogomes.blogspot.com/2009/04/chimpanze-troca-carne-por-sexo.html (já havia sido sugerido como hipótese para as primeiras sociedades recolectoras) ;
a questão dos “estádios ambíguos”, pa, n te preocupes com eles (mas se te preocupares: Victor Turner e Mary Douglas);
modelos de sucesso = ideais-tipo/estereótipos de sucesso/existências (aparência, carreira, maneiras…) socialmente valorizadas, que informam as tuas opções quotidianas, quer decidas segui-los, quer não (são relativos à tua posição: podes analisar por classes, por género, idade, etc); é um conceito para te ajudar a perceber o mundo, não existe!!!
Objectificar o corpo feminino é esmiuçar-lhe as características, é falar dele distinguindo o normal do anormal, a beleza da fealdade e, assim, regrá-lo (põe a moda, a maquilhagem, a cirurgia estética… aqui tb)
Espero ter ajudado.
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Não posso deixar de retaliar sobre este assunto, pois não podemos negar que existe um biologismo redutor da mulher em geral! Se cada vez vemos mais mulheres a entrar para o ensino superior, também assistimos sempre (pelo menos por módulos normais) à continuidade dos papéis tradicionais, dos modelos típicos de ser mulher, tais como cuidar, educar ou o serviço social... as diferenças de género causam assimetrias sociais! E temos de pensar que só uma sociedade onde a politica, o poder, e as decisões se uniformizasse e hegemonizasse seria capaz de garantir princípios e estruturas de suporte social.
ResponderEliminarUma sociedade que rejeita parcelas de si, assemelha-se ao corpo onde só parte dos seus membros e órgãos funcionam...
"Houve tempos em que preferia poeta, entendia que poetisa era menor, mas cada vez mais me convenço que é preciso dignificar a palavra" não podia concordar mais com Ana Luís Amaral (professora, feminista e poeta).
*Ana Luísa Amaral
ResponderEliminarYEAH! *
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