27 de setembro de 2009
23 de setembro de 2009
bom e em português
Horizontes Antropológicos
revista non gratuita, therefore amanhez vous
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[25.09] afinal afinal illic est a solvo obvius, liberalitas of Diogo Duarte
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[25.09] afinal afinal illic est a solvo obvius, liberalitas of Diogo Duarte
20 de setembro de 2009
Gell (1998): a antropologia da arte
Inscrita nos debates sobre o estudo antropológico dos objectos artísticos, Art and Agency – obra póstuma, escrita nos últimos meses de vida de Alfred Gell – é comummente apresentada como revolucionária, ou pelo menos de grande importância, na medida em que avança uma série de propostas operativas para o campo disciplinar, para além de procurar localizá-lo e defini-lo no espaço da Antropologia. Mais do que uma reflexão sobre os objectos, é importante destacar que Gell tem uma versão própria sobre o que deve ser Antropologia da Arte, demarcando-se explicitamente das suas versões institucionais – mais próximas da Sociologia – e simbólico-interpretativas – afins da Antropologia Cultural Americana e da Teoria da Arte, suportadas por alguns discursos filosóficos –: da construção e/ou reconhecimento da arte ao nível das esferas metropolitanas influentes (críticos, negociantes, coleccionadores, teóricos, etc – o “mundo das artes”(Cf. Becker)), e da expressão artística como linguagem, meio de comunicação estética que parte de uma série de convenções simbólicas sobre a forma, respectivamente. Alertando para os perigos da imposição de um modelo etnocêntrico a contextos alheios à definição institucional da arte (sem que com isso deixem de possuir objectos de relevância artística, com os quais indivíduos e grupos se relacionam segundo padrões relativamente semelhantes aos que Gell observa para o ocidente) e para os da reificação da cultura, vazia de relações sociais, na formulação de quadros de avaliação estética – que é estratégia normalmente adoptada pela Antropologia da Arte de pendor mais simbólico e/ou interpretativo –, Alfred Gell prefere uma abordagem action-orientend, como deixaria adivinhar o seu treino na escola Social Britânica, em que o idioma da comunicação é substituído pelo das relações sociais, e do da textualidade pelo da agência. É por isto que à teoria deste autor se associa um certo filistinismo metodológico (Quintais, 2007; Thomas, 1998), produto do deslocamento do sentido para a mediação social; nesta Antropologia da Arte interessam sobretudo as relações de agência nas imediações do objecto artístico, abordagem que faz maior jus à sua especificidade pela eficácia social (Cf. Gell, 1992) do que pela sua forma ou conteúdo. Sem rejeitar as perspectivas concorrentes, o esforço de Gell é o do resgate e autonomização da sub-disciplina face a este objecto partilhado que é a arte, defendendo que esta não pode existir sem ser em diálogo com a teoria antropológica disponível; a primeira deve ser apenas uma derivação da segunda, um registo enfocado, mas nem por isso independente: “The position I have reached is that na anthropological theory of art is one which ‘looks like’ and anthropological theory, in which certain of the relata, whose relations are described in the theory, are works of art.” (Gell, 1998: 10) . Deste modo, a formulação e aplicação de uma teoria antropológica da arte não depende necessariamente do estatuto de “obra de arte” dos seus objectos, ela afirma-se antes como a compreensão das relações pessoas-coisas e pessoas-pessoas via coisas, nas quais os produtos assim reconhecidos participam (note-se que a tese de Gell é assumidamente uma tese dos objectos e da arte plástica). Daí que a definição de objecto artístico se estenda muitíssimo em Art and Agency: é arte tudo aquilo que preencher a slot dos objectos artísticos no sistema de termos e relações estabelecidos por Gell (ibid.: 7). Este enunciado, estritamente teórico e relacional, ainda que dilua a categoria de “objecto artístico” – ao ponto de poder corresponder-lhe, em potência, qualquer dado material do mundo –, tem como vantagem contornar os debates filosóficos em torno da natureza e/ou essência da arte e superar as diferenças estabelecidas entre arte primitiva e arte ocidental , no sentido de encontrar-lhes uma plataforma de análise comum.
[excerto de recensão, notas omissas*]
17 de setembro de 2009
"Explicitness against implicitness, insistence on the obvious as against avoidance of the obvious, numerical assessment as against avoidance of figures, recapitulation as against variety, accurate definition as against evocativeness: the former qualities are part of the rigorous code of scientists. As Homans says, '...it could not be better calculated to make their books and articles hard reading'."
Gluckman, M.*
Gluckman, M.*
15 de setembro de 2009
elixir recomendado
A minha relação de amor-ódio com [aquilo que conheço d]a obra de Michel Foucault tem sido assunto depositado na folha do soldados com alguma recorrência, de forma mais ou menos explícita. (Serão as dúvidas teóricas que me assaltam de banana e corta unhas as substitutas das crises existenciais de adolescência, na dinâmica da minha vida? Não.) Pois bem, quis o destino, ou um professor generoso, que me encontrasse com um texto fantástico, uma espécie de contrafeitiço: Michel Foucault, Ou o Niilismo de Cátedra, de José Guilherme Merquior.
Boa sorte com a pesquisa, já que o livro parece não passar a censura do gosto académico - tão mais amigo do meu autorU/Ambiguidade -, mas façam um favor a vocês mesmos, se partilharem do interesse, e sejam perseverantes! (Podemos sempre pensar noutras opções, já que não reconheço ilegitimidade na circulação de informação...) É uma crítica incrível: mais do que apresentar as incongruências, ou mesmo os erros, nos trabalhos de Foucault, Merquior explica-os! Explica a obra pelo contexto, conhecedor distanciado, sempre sereno e com muito humor. Mostra quando aquele diz mais do mesmo, citando nomes familiares, mostra também quando é que é novo - afinal não tantas vezes. E ninguém fica mal visto. Então Foucault passa a ser mais um homem - mais um homem, ha!
Termina assim:
“Leo Strauss costumava dizer que, nos tempos modernos, quanto mais cultivamos a razão, mais cultivamos o niilismo. Foucault demonstrou que não é absolutamente necessário fazer a primeira coisa a fim de alcançar a segunda. Ele foi o fundador de nosso niilismo de cátedra.”
Boa sorte com a pesquisa, já que o livro parece não passar a censura do gosto académico - tão mais amigo do meu autorU/Ambiguidade -, mas façam um favor a vocês mesmos, se partilharem do interesse, e sejam perseverantes! (Podemos sempre pensar noutras opções, já que não reconheço ilegitimidade na circulação de informação...) É uma crítica incrível: mais do que apresentar as incongruências, ou mesmo os erros, nos trabalhos de Foucault, Merquior explica-os! Explica a obra pelo contexto, conhecedor distanciado, sempre sereno e com muito humor. Mostra quando aquele diz mais do mesmo, citando nomes familiares, mostra também quando é que é novo - afinal não tantas vezes. E ninguém fica mal visto. Então Foucault passa a ser mais um homem - mais um homem, ha!
Termina assim:
“Leo Strauss costumava dizer que, nos tempos modernos, quanto mais cultivamos a razão, mais cultivamos o niilismo. Foucault demonstrou que não é absolutamente necessário fazer a primeira coisa a fim de alcançar a segunda. Ele foi o fundador de nosso niilismo de cátedra.”
7 de setembro de 2009
experiência
Serve o espaço de comentários a este post à partilha de links relacionados com a exposição INSIDE, vale? Tenho preferência por textos críticos, que os de divulgação são normalmente repetitivos; de qualquer forma, que não seja pela triagem que deixam de copiar e colar...!
A exposição arranca a 24 de Setembro, mas já existe alguma coisa por aí.
Agradeço então qualquer informação em que tropecem e achem relevante.
A exposição arranca a 24 de Setembro, mas já existe alguma coisa por aí.
Agradeço então qualquer informação em que tropecem e achem relevante.
«Uma causa oniro-tésica.»
3 de setembro de 2009
coisa que a lua certamente não é
No ano que passou li muito construtivismo e uma série de proto-ideias que permitiram os estudos sociais de ciência como hoje os conhecemos. Compreender a inscrição da ciência na cultura e nas relações sociais – ou seja, que não é descomprometida ou isenta de contextualidade, sendo reflexo de intersubjectividades com a sua agenda intelectual particular, equacionada junto de meios, pré-disposições e expectativas –, levou algum tempo e é uma marca do século XX, especialmente do pós-guerra. (Mais recentemente, questiona-se com insistência as fronteiras entre natureza e cultura, “o passo a seguir”, mas esta é uma história a que quero dedicar-me num outro dia.) Diria que o projecto pós-moderno é uma mega-depuração, em vez de uma contra-depuração, no sentido em que desemboca num relativismo às vezes insuportável. A certa altura dei por mim aflita por não conseguir pensar doutra forma senão em termos de discursos e poder, de grandes novelas históricas, com a realidade sempre por incerta e uma enorme descrença no conhecimento científico por referência de verdade. «Então mas as coisas são apenas aquilo que dizemos que são?»
Por hipocrisia e etnocentrismo, estes princípios não me causaram grande incómodo enquanto circulava pelas “construções ocidentais” da anorexia, da loucura e genialidade, da divisão mente-corpo… – ao fim ao cabo, parecem-me sensatas e vivíveis, independentemente do seu estatuto de verdade. O problema levanta-se quando descubro a controvérsia da lua, com mais de dez anos, entre Richard Dawkins e alguns antropólogos (sem que se aplique apenas a estes):
Dawkins had once asked a social scientist about a hypothetical tribe that believed that the “moon is an old calabash tossed just above the treetops.” Did he really believe that that tribe’s view would be “just as true as our scientific belief that the moon is a large Earth satellite about a quarter of a million miles away?” The social scientist replied, according to Dawkins, that “the tribe’s view of the moon is just as true as ours.” (daqui).
Ora, este momento anedótico dá a Dawkins a inspiração necessária para escrever “The Moon is not a Calabash” (ao qual, muito infelizmente, não consigo aceder), e, de facto, bolas, tenho de apoiar o cretino dos memes, A Lua Não É Uma Cabaça! A mesma pessoa que aceitava a esquizofrenia como uma total construção, uma existência social (as minhas únicas reservas prendiam-se com a questão do sofrimento humano, que esse não é inventado, mas pode ter os nomes que quisermos), não aceita que a tese da Lua-Cabaça seja tão verdadeira quanto a da Lua-Astro para aqueles que crêem nela, ou que a Sabem. Não, não, não, é óbvio sem nunca lá ter ido, cheirado e tocado: a lua não é tão cabaça quanto rocha!
É então tempo de repensar posições.
Por hipocrisia e etnocentrismo, estes princípios não me causaram grande incómodo enquanto circulava pelas “construções ocidentais” da anorexia, da loucura e genialidade, da divisão mente-corpo… – ao fim ao cabo, parecem-me sensatas e vivíveis, independentemente do seu estatuto de verdade. O problema levanta-se quando descubro a controvérsia da lua, com mais de dez anos, entre Richard Dawkins e alguns antropólogos (sem que se aplique apenas a estes):
Dawkins had once asked a social scientist about a hypothetical tribe that believed that the “moon is an old calabash tossed just above the treetops.” Did he really believe that that tribe’s view would be “just as true as our scientific belief that the moon is a large Earth satellite about a quarter of a million miles away?” The social scientist replied, according to Dawkins, that “the tribe’s view of the moon is just as true as ours.” (daqui).
Ora, este momento anedótico dá a Dawkins a inspiração necessária para escrever “The Moon is not a Calabash” (ao qual, muito infelizmente, não consigo aceder), e, de facto, bolas, tenho de apoiar o cretino dos memes, A Lua Não É Uma Cabaça! A mesma pessoa que aceitava a esquizofrenia como uma total construção, uma existência social (as minhas únicas reservas prendiam-se com a questão do sofrimento humano, que esse não é inventado, mas pode ter os nomes que quisermos), não aceita que a tese da Lua-Cabaça seja tão verdadeira quanto a da Lua-Astro para aqueles que crêem nela, ou que a Sabem. Não, não, não, é óbvio sem nunca lá ter ido, cheirado e tocado: a lua não é tão cabaça quanto rocha!
É então tempo de repensar posições.
2 de setembro de 2009
crer e querer
"Gregory Paul, an independent researcher on evolution, and Phil Zuckerman, a sociologist at Pitzer College in California, have argued controversially that a belief in God is directly correlated with the level of what might be described as the intensity of the struggle for existence. In countries where food is plentiful, health care is universal and housing is accessible, people believe less in God than in those countries where their lives are insecure. A belief in God, and rejection of evolution, they suggest, is most valuable in those societies that are most subject to Darwinian pressures."
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