No ano que passou li muito construtivismo e uma série de proto-ideias que permitiram os estudos sociais de ciência como hoje os conhecemos. Compreender a inscrição da ciência na cultura e nas relações sociais – ou seja, que não é descomprometida ou isenta de contextualidade, sendo reflexo de intersubjectividades com a sua agenda intelectual particular, equacionada junto de meios, pré-disposições e expectativas –, levou algum tempo e é uma marca do século XX, especialmente do pós-guerra. (Mais recentemente, questiona-se com insistência as fronteiras entre natureza e cultura, “o passo a seguir”, mas esta é uma história a que quero dedicar-me num outro dia.) Diria que o projecto pós-moderno é uma mega-depuração, em vez de uma contra-depuração, no sentido em que desemboca num relativismo às vezes insuportável. A certa altura dei por mim aflita por não conseguir pensar doutra forma senão em termos de discursos e poder, de grandes novelas históricas, com a realidade sempre por incerta e uma enorme descrença no conhecimento científico por referência de verdade. «Então mas as coisas são apenas aquilo que dizemos que são?»
Por hipocrisia e etnocentrismo, estes princípios não me causaram grande incómodo enquanto circulava pelas “construções ocidentais” da anorexia, da loucura e genialidade, da divisão mente-corpo… – ao fim ao cabo, parecem-me sensatas e vivíveis, independentemente do seu estatuto de verdade. O problema levanta-se quando descubro a controvérsia da lua, com mais de dez anos, entre Richard Dawkins e alguns antropólogos (sem que se aplique apenas a estes):
Dawkins had once asked a social scientist about a hypothetical tribe that believed that the “moon is an old calabash tossed just above the treetops.” Did he really believe that that tribe’s view would be “just as true as our scientific belief that the moon is a large Earth satellite about a quarter of a million miles away?” The social scientist replied, according to Dawkins, that “the tribe’s view of the moon is just as true as ours.” (daqui).
Ora, este momento anedótico dá a Dawkins a inspiração necessária para escrever “The Moon is not a Calabash” (ao qual, muito infelizmente, não consigo aceder), e, de facto, bolas, tenho de apoiar o cretino dos memes, A Lua Não É Uma Cabaça! A mesma pessoa que aceitava a esquizofrenia como uma total construção, uma existência social (as minhas únicas reservas prendiam-se com a questão do sofrimento humano, que esse não é inventado, mas pode ter os nomes que quisermos), não aceita que a tese da Lua-Cabaça seja tão verdadeira quanto a da Lua-Astro para aqueles que crêem nela, ou que a Sabem. Não, não, não, é óbvio sem nunca lá ter ido, cheirado e tocado: a lua não é tão cabaça quanto rocha!
É então tempo de repensar posições.
Por hipocrisia e etnocentrismo, estes princípios não me causaram grande incómodo enquanto circulava pelas “construções ocidentais” da anorexia, da loucura e genialidade, da divisão mente-corpo… – ao fim ao cabo, parecem-me sensatas e vivíveis, independentemente do seu estatuto de verdade. O problema levanta-se quando descubro a controvérsia da lua, com mais de dez anos, entre Richard Dawkins e alguns antropólogos (sem que se aplique apenas a estes):
Dawkins had once asked a social scientist about a hypothetical tribe that believed that the “moon is an old calabash tossed just above the treetops.” Did he really believe that that tribe’s view would be “just as true as our scientific belief that the moon is a large Earth satellite about a quarter of a million miles away?” The social scientist replied, according to Dawkins, that “the tribe’s view of the moon is just as true as ours.” (daqui).
Ora, este momento anedótico dá a Dawkins a inspiração necessária para escrever “The Moon is not a Calabash” (ao qual, muito infelizmente, não consigo aceder), e, de facto, bolas, tenho de apoiar o cretino dos memes, A Lua Não É Uma Cabaça! A mesma pessoa que aceitava a esquizofrenia como uma total construção, uma existência social (as minhas únicas reservas prendiam-se com a questão do sofrimento humano, que esse não é inventado, mas pode ter os nomes que quisermos), não aceita que a tese da Lua-Cabaça seja tão verdadeira quanto a da Lua-Astro para aqueles que crêem nela, ou que a Sabem. Não, não, não, é óbvio sem nunca lá ter ido, cheirado e tocado: a lua não é tão cabaça quanto rocha!
É então tempo de repensar posições.
Erudita.
ResponderEliminarEia ca-ganda palavrão!
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